Liderança: virtude ou ditadura?

Por Renato Moura

Participei numa organização na qual, durante as reuniões, o líder manifestava longamente as suas análises e opiniões estratégicas, de forma firme e pretensamente incontestável. Depois, num gesto de aparente abertura e generosidade, concluía: “mas ouçamos agora a vossa opinião”. A maioria dos presentes já perdera o ânimo para contrapor. Perante a contestação fundamentada de alguns corajosos, sobre determinada proposta, o líder não se dava por vencido, ficava-se por: “percebo que esse assunto não está ainda suficientemente amadurecido; voltaremos a ele mais tarde”. E por vezes nem voltava.

Disse-lhe um dia: “os amigos não são os que estão sempre de acordo”. Talvez entender isso tivesse bastado, ou contribuído, para não se ir sobranceiramente de vitória em vitória… até às derrotas continuadas.

E hoje?

Os líderes são detentores de qualidades marcantes, de direcção e coordenação, considerados pelos seus como representantes institucionais do movimento ou do grupo. Os realmente carismáticos são dotados dum carácter forte, permitindo-lhes influenciar pessoas, lutar pelo reconhecimento alargado, exibir aptidão para defender pretensões gerais e realizar objectivos concretos.

As lideranças, se são impostas, são ditaduras, mais ou menos violentas. O quero, posso e mando, ainda se exercido com licitude institucional, não tem legitimidade moral. Não é líder quem defende o insustentável, quem não tem a humildade de reconhecer os seus erros e os dos seus colaboradores. A firmeza jamais é virtude se usada para disfarçar a insensatez, a teimosia, a irracionalidade.

Nenhum líder é capaz sem conselheiros inteligentes e sem bons colaboradores. O sucesso duradouro só se constrói sobre a rocha firme do colectivo; isso se vê nas organizações eficazes, sejam elas empresariais, públicas, sociais, políticas, religiosas.

Quem não tem dúvidas, os se as tem procura respostas apenas dentro de si próprio, subiu o degrau da altivez, rumo ao pedestal do orgulho; e aí se compraz do poder absoluto. Quem instituído de poder – seja ele político, social, económico, religioso – só acredita e considera quem está sempre de acordo consigo, percorre ou está à entrada do caminho da ditadura. E esta podendo começar por simples palavras, avança para actos, atingirá aberrações… para não dizer mais.

Liderança virtuosa é a destinada à prática do bem, da justeza. É cumprida com tolerância, paciência. É exercida com prudência, com esforço, com rigor. Também precisa de coragem e valentia, mas sempre com observância dos valores.

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