Livro assinala 200 anos do Império de São Carlos

Victor Alves, autor e membro da Irmandade, traça a evolução histórica do culto do Divino Espírito Santo neste lugar de Angra do Heroísmo

“São Carlos- Irmandade do Divino Espírito Santo- Notas Históricas” é o título do livro, da autoria do jornalista da RTP Açores Victor Alves, que vai ser lançado no próximo domingo, pelas 21h00, no “Teatro” do Império de São Carlos, em Angra do Heroísmo, apurou esta sexta feira o Sítio Igreja Açores.

A apresentação estará a cargo do investigador universitário Félix Rodrigues e será feita depois dos “irmãos” desta Irmandade rezarem o terço.

Em declarações ao Sítio Igreja Açores, o autor, também “irmão” desta Irmandade e membro da comissão formada para liderar as comemorações dos 200 anos do império, que se assinalam este ano,  lembra que se trata de “um conjunto de notas históricas que mostram a evolução deste culto, a sua fundamentação e a inserção na comunidade de São Carlos”.

O livro procura fazer a história da construção deste “teatro” bem como da “despensa”; faz o historial da festa e assinala os 200 anos de construção do “Teatro”, concluído em 1814.

A cerimónia de lançamento do livro marca, de resto,  o arranque de uma semana de festa neste lugar de Angra do Heroísmo, que se realizará entre os dias 21 e 29 de setembro, fazendo coincidir a coroação com o último fim de semana de setembro, como foi prometido pelo povo deste lugar.

De acordo com a página da Irmandade na Internet, a irmandade do Divino Espírito Santo do lugar de S. Carlos constituiu-se na sequência de uma crise vulcânica que se desenvolveu em 1761 no interior da ilha, a última de grande dimensão, registada na Terceira e que se prolongou por vários meses, fazendo expelir lava em diversas direções, alterando a orografia de vastas áreas da ilha.

O povo invocou o Divino Espírito Santo e o fumo dissipou-se pouco depois. Facto que foi tomado como um milagre, assinalado pelos anos adiante com a instituição de uma Irmandade do Espírito Santo e a realização da festa do Império.

De acordo com relatos da altura, citados pela Página da Irmandade, a lava correu abundante pelas encostas, em três correntes. Uma dirigiu-se para os Biscoitos e apanhou o povo que subia ao interior da ilha, como uma coroa do Divino, em direção ao local da primeira explosão.

Ninguém foi apanhado por esta corrente que tinha cerca de uma légua de comprido e mil braças de largura. Soterrou 27 casas de moradia e cobriu grandes extensões de vinhas e pomares. A lava corria devagar, tão devagar que se conta até o caso de pessoas que andando na procissão acendiam as tochas que por vezes se apagavam. O vulcão vomitou lava por oito dias consecutivos, lançando também chuveiros de areia e cinza por toda a ilha.

Em São Carlos o povo saiu à rua implorando a misericórdia Divina, levantando um estrado de madeira junto à ermida de S. Carlos Borromeu, onde depositou uma coroa do Espírito Santo.

A vigília foi constante e o fumo manteve-se três semanas sem ultrapassar os limites do estrado, desaparecendo por completo a 21 de Setembro, dia em que a Igreja venerava o Evangelista S. Mateus. E acrescenta que, em ação de graças pelo desaparecimento da estranha fumarada, iniciaram-se os festejos em louvor do Divino Espírito Santo.

Diz, ainda o Portal da Irmandade, que o povo não esqueceu o milagre atribuído ao Espírito Santo e presta-lhe a homenagem devida, anualmente, no último domingo de Setembro, com a coroação do Imperador e distribuição do Bodo.

Nos primeiros anos, a coroação decorria na ermida de S. Carlos Borromeu e os festejos tinham lugar no caminho, junto à porta do pequeno templo. No lado contrário armava-se o “Teatro”, em madeira, onde o Imperador presidia à festa.

Só em 1814, surgiu a estrutura em alvenaria mas com uma configuração diferente da que tem hoje, seguindo o modelo vigente na época, que em tudo se assemelhava a um alpendre: estava implantado em plano elevado, não teria mais de quatro colunas e um teto, sendo completamente aberto na frente e nos lados, para que todos pudessem ver o que se passava no interior.

Na prática, era um “Teatro” onde se representava anualmente o Auto do Império, renovando a crença no reino do Espírito Santo, que promete a igualdade, a abundância e a paz universal.

Com o correr dos tempos, a estrutura foi melhorada, tapada nos lados e na frente, construiu-se um nicho no interior e deixou de ser um “Teatro” para parecer uma capela, onde ainda hoje se reza o terço e se deposita a Coroa.

A Irmandade de São Carlos é uma das mais antigas da ilha Terceira. Desde o inicio do ano tem promovido uma série de atividades para pontuar estes dois séculos de história. No momento alto do Bodo, realiza-se a distribuição de uma “pensão”, composta por pão, carne e vinho, por todos os irmãos que, sendo predominantemente residentes neste lugar de Angra do Heroísmo, estão também espalhados por toda a ilha Terceira

“Este ano especialmente vamos ter 11 mordomos, dois deles são da diáspora, na América, porque queremos também envolver sempre os nossos emigrantes que estão muito ligados ao culto do Espírito Santo”, disse ao Portal da Diocese Paulo José, um dos irmãos.

O Culto ao Divino Espírito Santo é uma das manifestações de religiosidade popular mais evidentes nos Açores. Assinala-se sempre na segunda feira de Pentecostes, data do feriado da Região Autónoma dos Açores.

 

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