Menos conversa e mais trabalho

Por Renato Moura

Comemorar o 25 de Abril de 1974, supostamente, seria trazer à memória e homenagear um facto importante. A cerimónia não foi exactamente assim.

O Presidente da Assembleia da República dedicou parte considerável do seu discurso a homenagear o seu ponto de vista e o da maioria, sobre a forma do rito. Ao contrário de um bom anfitrião, não se coibiu de “puxar as orelhas”, em dia de festa, a alguns da Casa e a muitos portugueses discordantes e impedidos de estar presentes. Não se mascarou, mas não conseguiu mascarar o erro. E Ferro Rodrigues já nem precisava de mais esta para macular a imagem! A Assembleia da República não recuou, mas deu meia volta e avançou: mingou o número de deputados face à contestação; e os convidados reduziram-se por si próprios.

O Presidente da República foi incoerente. Atribuiu, por um lado, a decisão inalterável à Assembleia da República. Por outro lado, gastou-se, do alto da sua cátedra, a acusar os portugueses divergentes do modelo deste ano, de estarem errados; e forçando-os a perceber! Quis, expressamente, não ficar equidistante, divergir, ser sectário, optar pelo lado de uma maioria espúria.

Uma coisa é a expectativa, outra é a realidade: nem sempre as mais altas figuras da hierarquia do Estado são meritórias.

Dos discursos, retiradas as extensas delongas sobre as querelas da cerimónia, bem como as comuns e repetitivas alusões à Covid 19, não se dedicou o tempo, nem o tratamento naturalmente esperados ao apreço pela instauração da liberdade e sobre a admiração pelas realizações. Nem se deu a importância merecida aos desafios futuros para concretização da democracia.

Passados 46 anos, longos discursos. A desejada comemoração ficou indelevelmente marcada pelo desfiar de insucessos e fracassos. De sonhos idealizados e não concretizados. Nisto de lamentações houve deputados a emparelhar com os cidadãos pessimistas. E até a demagogia sequestrou!

Ao invés, sendo os deputados a representar o povo e a reconhecer quanto está por realizar, certamente se esperariam, sempre, mas em especial nesta data tão comemorativa e significativa, compromissos concretos e claros. Sobre a convergência no essencial do serviço à população e ao desenvolvimento de Portugal, mas também quanto à forma de ultrapassar as tradicionais escaramuças.

Afirmou-se: “A democracia não está suspensa”. Não está suspensa, nem pode estar nunca. E também não pode continuar ferida pelos vírus que a atormentam. Como o 25 de Abril não foi vacina eficaz, menos palavras e mais obras seria um dos tratamentos.

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