Misericórdia para lá do Jubileu na diocese de Angra

Igreja Açores recorda acontecimentos marcantes da igreja local insular

O Jubileu da Misericórdia, terceiro ano santo extraordinário na história da Igreja Católica, marcou as palavras e gestos do Papa Francisco ao longo de 2016, surgindo como categoria fundamental para definir o pontificado. Todas as igrejas locais seguiram este desafio e nos Açores não foi diferente.

O Ano Santo na diocese de Angra foi marcado por sucessivos acontecimentos e prioridades definidas em função da temática do ano jubilar, como as orientações diocesanas de pastoral centradas na pastoral social.

No dia em que encerraram as 23 portas santas das igrejas jubilares açorianas, D. João Lavrador lembrou a “oportunidade para dar continuidade às interpelações do Ano da Misericórdia, renovando a nossa forma de ser e de actuar junto de Deus que em Jesus Cristo nos revela permanentemente o Seu rosto misericordioso”, disse o prelado, lembrando que  “A misericórdia dilata o coração e faz-nos mais atentos à dignidade de cada irmão a necessitar a nossa presença e colaboração”.

O Ano começou justamente com uma das maiores manifestações de piedade popular com a visita da imagem da Virgem Peregrina de Fátima que percorreu todas as ouvidorias da diocese, de Santa Maria ao Corvo, parando e tocando em praticamente todas as paróquias.

A Imagem entrou por Santa Maria, a primeira ilha a ser descoberta mas também aquela que teve a primeira igreja dedicada a Nossa Senhora de Fátima e que se estima, de acordo com registos históricos, que foi a primeira igreja dedicada a Nossa Senhora depois da Capelinha das Aparições.

O Espírito do Roteiro definido obedeceu “a uma certa cronologia” que teve, naturalmente, estes factos em conta. De resto, a ilha de Santa Maria é dedicada a Nossa Senhora, “caso único na Diocese de Angra”.

No inicio da viagem da Virgem Peregrina à diocese e, em declarações ao Sítio Igreja Açores, o Vigário Geral, que foi o delegado Diocesano ao Santuário de Fátima, explicou que a imagem iria fazer o percurso de “todas” as 14 obras de Misericórdia e, simultaneamente, percorrer todas as ouvidorias (arciprestados) de “acordo com um tema bíblico”.

Para o então bispo da diocese a coincidência entre a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima e a comemoração do Ano Santo da Misericórdia “deveria ser aproveitada como um período de graça”.

Por isso, D. António de Sousa Braga, que presidiu às celebrações de acolhimento e presidiu também à despedida da imagem, pediu que este período fosse “vivido com muita intensidade” por todos os açorianos que “deveriam olhar para Nossa Senhora como a verdadeira Porta da Misericórdia”.

“Trata-se de uma oportunidade para vivermos todos um momento de Graça e experimentarmos a misericórdia de Deus. Interpela-me muito como sempre nos deve interpelar a presença de Nossa Senhora na nossa vida pessoal e na vida das nossas comunidades”, disse D. António de Sousa Braga ao sítio informativo ‘Igreja Açores’.

D. António de Sousa Braga acolheu a imagem em Santa Maria, a sua ilha Natal e acompanhou-a ao Pico, São Jorge e Graciosa. No resto do tempo, a Imagem foi sempre acompanhada pelo Bispo Coadjutor.

O périplo da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima no Arquipélago dos Açores terminou na Sé Catedral, na Ilha Terceira, de onde saíu pela Porta da Misericórdia que foi aberta pela primeira vez nos últimos 15 anos, a 13 de dezembro de 2015.

A visita, acompanhada por D. João lavrador (ainda como bispo coadjutor), marcou igualmente o final do episcopado de D. António de Sousa Braga como 38º bispo de Angra e o segundo bispo residencial natural dos Açores.

A resignação de D. António Braga foi aceite no dia em que completou 75 anos de idade (15 de março), saindo e dando lugar a um novo prelado diocesano, o bispo D. João Lavrador, que a 29 de setembro de 2015 tinha sido nomeado por Francisco como coadjutor da diocese açoriana, com direito à sucessão, tornando-se assim o 39º bispo de Angra.

O novo prelado, de 60 anos, natural de Mira, iniciou a sua missão nos Açores com o desejo de encurtar distâncias, tanto entre ilhas como com o continente, para valorizar o contributo do arquipélago no plano nacional.

“Não temos a consciência verdadeira de que a Igreja em Portugal é um todo e os Açores – e permitam-me que fale também na Madeira, porque é outra realidade de entrada – são de pleno direito e com a mesma dignidade Igreja em Portugal”, disse, em entrevista conjunta Ao Sítio Igreja Açores e Agência Ecclesia.

Desde que entrou na diocese de Angra já percorreu todas as ilhas do arquipélago e algumas zonas da diáspora.

A diocese elegeu como prioridade para este ano pastoral as questões sociais tendo já reunido com várias instituições e dinamizado sessões de aprofundamento e reflexão sobre as dinâmicas sociais insulares.

A igreja açoriana, que desde sempre se tem afirmado pela marca da proximidade, quer ser um agente ativo na definição de uma estratégia de atuação conjunta, com a sociedade civil e política, para mitigar a pobreza que ainda grassa no arquipélago.

 

A prioridade definida em conselho presbiteral e confirmada pelo conselho pastoral, levou mesmo a diocese a promover um estudo intitulado “Diagnóstico de ação social na paróquia” cujas conclusões foram apresentadas em Ponta Delgada, Angra e Horta, mobilizando vários agentes da pastoral social e sobretudo, “uma enorme vontade de trabalhar em rede respeitando a autonomia de cada instituição”.

 

Esta prioridade articulada com a pastoral familiar deu origem a vários encontros e também reflexões sobre a exortação pós sinodal do Papa Francisco A Alegria do Amor, protagonizadas pelo responsável pela pastoral familiar que se deslocou pela primeira vez ao Corvo e às Flores para organizar o serviço nestas duas ilhas.

 

Durante este ano foram ainda ordenados um novo sacerdote e quatro diáconos dois deles com vista ao sacerdócio.

 

O Seminário Episcopal de Angra, apelidado de “Coração da diocese” pelo atual prelado, acolheu 5 novos alunos oriundos de várias ilhas.

 

Na mudança do clero destaque para a nomeação de um novo ecónomo- o ouvidor da terceira, Cónego António Henrique Pereira- e de um novo reitor para o Santuário diocesano do Senhor Santo Cristo dos Milagres, cónego Adriano Borges.

 

Este ano ficou ainda marcado pelo envio de um novo sacerdote para Roma, para estudar Teologia Dogmática (Pe Nelson Vieira) e do regresso de um outro doutorado em Direito Canónico (Pe Dinis Silveira), ambos na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

 

Para memória futura ficam igualmente duas significativas perdas nesta igreja local: as mortes de D. Arquimínio Rodrigues da Costa (Bispo emérito de Macau), em setembro, aos 92 anos, na ilha do Pico e a do Monsenhor Augusto Cabral, em dezembro, aos 79 anos de idade, em Ponta Delgada, que vestiram a diocese de luto.

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