Monsenhor Caetano Tomás: um homem grande de terra pequena

Por Renato Moura

A vida ensina-nos que nunca se é suficientemente novo para viver, nem suficientemente velho para morrer. Monsenhor Francisco Caetano Tomás, apesar dos 93 anos, poderia continuar a viver.

Creio que Deus chama a si os que têm a missão cumprida, embora não compreendamos, sobretudo sendo pessoas novas.

Nascido no Lajedo, Flores, o Doutor Caetano Tomás, como aqui era nomeado, reconhecia ter sido marcado por um também grande sacerdote, que foi seu pároco, o P.e Mota, impulsionador do movimento cooperativo que salvou então a economia dos pequenos lavradores.

Apesar do patamar elevado que atingiu na Igreja, também no ensino e na cultura, sendo como lhe chamaram um homem do mundo, nunca esqueceu as origens, de que se honrava e vinha à ilha frequentemente. Mantinha uma relação humilde e afável com toda a gente, independentemente da idade ou condição social. O professor estava sempre nele, pois de tudo quanto dizia se poderiam retirar lições, mas fazia-o com uma simplicidade cativante, numa linguagem acessível a todos; como dentro dele estava sempre o sacerdote, em qualquer contacto semeava também cristianismo, sem imposição.

Sempre, e ainda quando já tinha limitações físicas, colaborava nas festas religiosas e tinha disponibilidade para celebrar a eucaristia onde fosse necessário. Das homilias não fazia sermões, mas antes falava em tom coloquial apropriado à assembleia, no seu persistente objectivo de ensinar cristianismo a fundo, de enriquecer o cristianismo com autenticidade.

Dentro da Igreja ou em programas públicos, defendeu com galhardia aquilo em que acreditava, de viva voz e também nos livros e nos jornais, com fundamentação, lisura e educação, assim servindo a Deus e aos homens. Os que assim se expõem publicamente têm fortes convicções e coragem, dispõem-se ao contraditório e por isso são merecedores de respeito, também dos que têm opinião diferente, sobretudo quando lhes mingua capacidade para contraditar. De fora das Flores, fê-lo empenhada e profusamente, até no jornal da sua ilha, em defesa dos lavradores.

Com inusitada frequência, nesta terra ocidental custa reconhecer o valor de ilustres florentinos, que foram muitos ao longo da história. Será que as caldeiras puxam para o fundo?!

Todavia Monsenhor Caetano Tomás, pela intelectualidade, pelo mérito cívico, pela sementeira de cristianismo, com a graça de Deus ficará para a história, que se encarregará de o distinguir com a insígnia do direito ao pensamento livre e sua expressão; e também nas Flores, como grande homem, de terra pequena.

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