Não havia necessidade

Por Renato Moura

Parecia reinar um ambiente de trégua política; e de razoável resignação do povo perante os poderes e os políticos. A decisão, da Assembleia da República, de comemorar o 25 de Abril, veio entornar o caldo. Não pela comemoração, mas pela forma como se decidiu fazer a festa. Com muitos deputados, dezenas de convidados; mas sem povo. O Estado que impede ajuntamentos, mesmo de família, na Páscoa ou nos aniversários das crianças; nas igrejas ou na via pública!

Nos “25 de Abril” só discursam meia dúzia de pessoas. É o único contexto no qual todos os demais podiam acompanhar pela televisão e bater palmas em família; ou associar-se às formas criativas de envolver o povo confinado. Não havia necessidade de vilipendiar os discordantes sobre a forma de festejar. Alguém lançou uma oportuna pergunta retórica: “Quem me autoriza a discordar da forma de comemorar o 25 de Abril?”. Resposta: “A liberdade do 25 de Abril!”.

Era dispensável a arrogância do Presidente de todos os deputados; e a repetida falta de igual distanciamento político. Comemorar Abril é respeitar a liberdade de opinião das minorias.

Não é uma rotineira comemoração que salva a democracia.

Quem, indignado, discorda da forma de festejar, não pode ser intitulado fora do espírito de Abril, nem antidemocrata. A esquerda não tem legitimidade para se fazer dona de Abril, rejeitando os demais. Nem sequer anátema ou complexo, de quem tenha sido deputado antes do 25 de Abril, se disfarça ou cura com declarações patéticas.

O ataque português à pandemia tem sido visto, do exterior, como positivo. Reúne, dentro de portas, um consenso considerável. É uma realização colectiva: não é legítimo partidarizá-la. Assim, não havia necessidade de António Costa (é indissociável a qualidade de líder do PS e de 1.º Ministro) vir agora arrogar: “Quanto mais a luta aquece, mais força tem o PS”! Nem havia necessidade de Rui Rio vir recomendar aos seus (deputados, autarcas, dirigentes?) não ser patriótico, neste momento, atacar o governo socialista! Pretendeu ganhar pontos?! Mas ser oposição responsável, com ideias alternativas e construtivas, é sempre patriótico e disso ninguém se pode abster, embora seja trabalhoso. Condenável é o tradicional “bota abaixo”; agora e sempre.

Pela festa do 25 de Abril, não havia necessidade de magoar!

O Papa Francisco, sempre oportuno, realçou: “A política é uma alta forma de caridade” e orou: “Pelos partidos políticos de vários países, para que, neste momento de pandemia, procurem juntos o bem do país e não o bem do próprio partido”.

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