“Não punhamos o sofrimento na periferia e não releguemos para segundo plano as instituições que tratam as pessoas em sofrimento”- padre José Júlio Rocha

 

Foto Igreja Açores/CR

Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, em Ponta Delgada, celebra amanhã 50 anos

A Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, em Ponta Delgada, gerida pelas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, completa esta sexta-feira , dia 8 de dezembro, 50 anos ao serviço da saúde mental em São Miguel e nos Açores em geral.

“O grande desafio que temos neste aniversário, e sempre, é não perdermos a identidade ; aquilo que queremos que nos diferencie, como a centralidade do doente” afirmou ao Igreja Açores a Ir. Teresa Gomes, superiora da comunidade, durante a festa que a instituição antecipou para esta quinta-feira, envolvendo toda a comunidade, não só a residente e respetivas famílias, como os colaboradores e mecenas.

“Queremos continuar a ser o rosto do cuidado humanizador e que esta seja uma casa onde se viva e respire hospitalidade, embora, por vezes, os recursos sejam escassos”, disse ainda religiosa sublinhando que há sempre “a consolação” de terem “muitos colaboradores identificados”

“Tem sido uma aposta da congregação: queremos ajudar os nossos colaboradores a sentirem-se parte da família hospitaleira; não se trata apenas de um serviço que nos prestam, profissional e de qualidade, mas também o de serem cooperadores ativos nesta missão” do tratamento e da promoção da pessoa com doença mental.

Atualmente a Casa de saúde de Nossa Senhora da Conceição acolhe 180 doentes e mobiliza 168 colaboradores. Além do problema dos recursos humanos há também os financeiros que decorrem de uma divida da Região à  instituição bem como dos baixos valores praticados pelo Governo no apoio às camas disponibilizadas. A casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, a par da do Espírito Santo, na ilha Terceira, são as únicas instituições que garantem as camas de internamento para doentes femininos de saúde mental, contribuindo assim para a resposta mais efetiva do Serviço Regional de Saúde nesta área.

“Embora tenha sido um ano difícil, na verdade há o compromisso do Governo Regional em rever o acordo de cooperação- foi criado um grupo de trabalho para o efeito- aumentando a contribuição unitária por utente de 45,5 euros para 49,5 bem como um acordo prévio para o pagamento da dívida de forma faseada. Esperamos que haja brio da parte das autoridades para honrar este acordo”, referiu por seu lado Raquel Coelho, diretora da Casa de saúde de Nossa Senhora da Conceição.

“Temos tido projectos inovadores que temos apresentado à comunidade, mas as dificuldades existem” refere a dirigente reconhecendo que depois da pandemia, “há cada vez mais  procura”, com diferentes patologias, mas o “doente de saúde mental está mais confortado a nível social”.

“Temos apostado na literacia em saúde mental e a existência de equipas comunitárias, nos Centros de saúde, ajudam-nos a garantir uma melhor prevenção, mas há sempre muitos problemas a exigir soluções inovadoras para darmos melhores respostas aos casos emergentes”.

“As irmãs têm sido capazes de apresentar essa inovação aliada à competência”, disse ainda.

Esta quinta-feira, foi celebrada uma eucaristia de acção de graças, presidida pelo Vigário Episcopal para o Clero e Formação, em representação do Bispo de Angra.

O padre José Júlio Rocha desafiou os presentes a não colocar o sofrimento na periferia.

“Não punhamos o sofrimento na periferia; não releguemos para segundo plano estas instituições” que “ajudam a tratar o sofrimento que nós não conseguimos enfrentar e cuidar”.

O sacerdote, que é capelão hospitalar, apontou o dedo a uma sociedade que “se diz tolerante e que defende a diferença” mas que “não aceita a doença nem o sofrimento e nem sequer gosta de conviver com eles”.

“Não podemos voltar a cara ao doente, ao ser humano que transporta consigo o sofrimento, que nós não queremos nem conseguimos enfrentar”, disse deixando uma palavra aos técnicos e colaboradores da instituição mas também para as irmãs Hospitaleiras.

“Hoje quem tem a coragem de deixar tudo para dar-se por completo ao outro tem de merecer o nosso respeito e admiração. Por isso deixo aqui um forte abraço a esta instituição, em particular às irmãs Hospitaleiras”.

As Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus chegaram a Ponta Delgada em 1966 e à Terceira um ano depois.

A sua missão “encarna e expressa o carisma da Hospitalidade no acolhimento, assistência e cuidado especializado, preferencialmente às pessoas com doença mental e outras situações de sofrimento e maior vulnerabilidade”.

“Tudo orientamos para alcançar os melhores resultados, com qualidade clínica e técnica, humanidade, rigor científico e inovação, no respeito pela individualidade da pessoa, procurando a sustentabilidade, e sendo capazes de atrair e reter os melhores colaboradores” refere a Página On line da Instituição quando apresenta os valores pelos quais se rege.

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