O individualismo egoísta é o maior problema das nossas sociedades, afirma Juan Ambrósio

Professor da Universidade Católica foi o orador do segundo dia das II Jornadas da Ouvidoria da Praia

O papel e os desafios que os cristãos enfrentam perante a emergência ambiental foi o tema da conferência que o professor da Universidade Católica Portuguesa proferiu no Centro Pastoral das Fontinhas, no segundo dia das Conferências da Ouvidoria da Praia da Vitória ao firmar que as propostas do papa Francisco, que respeitam à ecologia integral, “são muitos mais do que questões ambientais”.

“Hoje a questão ecológica é aquela que ocupa transversalmente a comunicação social e está na moda dizermos que somos verdes, mas mantemos os nossos estilos de vida” destaca o académico ao lembrar que “o grande risco do mundo atual, com a sua múltipla oferta de consumo, é o crescimento do individualismo egoísta”, afirmou o teólogo.

“O individualismo egoísta é o maior problema das nossas sociedades e quando a vida interior se fecha nos próprios interesses deixa de ver os outros e, sobretudo, de ver os pobres. E, quando isso acontece, deixamos também de ver Deus e de ouvir a sua voz” afirmou ainda .

De acordo com o docente universitário, a questão do ambiente para a Igreja não é nova. Juan Ambrósio citou vários documentos de magistério, para reforçar, no entanto, que é no pontificado do papa Francisco que a questão se torna mais evidente e mais ampla.

“Ecologia humana integral, é muito mais do que ambiental”, assinalou destacando as dimensões cultural, económica, social e política.

“Hoje temos um sério problema de exploração. Os países onde nascem alguns rios em África ou na América não são os donos da água”, exemplificou ao destacar que um dos grandes problemas que se colocam à humanidade prende-se com “a exploração dos recursos” e a desigualdades que ela gera. E lembrou a Amazónia, referindo que se trata de “um laboratório” para todas estas questões.

“A Amazónia é um laboratório para tudo e o Papa Francisco percebeu isso, seja do ponto de vista ambiental, seja do ponto de vista social, ou económico”, precisou.

“O ser humano não é um ser como os outros mas também não é o dono do mundo” e “são necessários pactos sinceros e honestos que sejam capazes de pensar nestas questões de um ponto de vista abrangente, um novo estilo de vida, assente na sobriedade”.

“O papa Francisco convoca toda a comunidade cristã para assumir estes desafios. Não conseguiremos resolver os problemas do mundo se não pensarmos no bem comum que é o melhor bem possível para todos e para cada um”, concluiu.

O Teólogo, que é docente na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, lembrou ainda as reformas que o Papa está a fazer na estrutura da Igreja, reclamando, cada vez mais, uma Igreja Sinodal, capaz de integrar todos e “na qual todos têm possibilidade de dizer qualquer coisa, uma igreja virada e preocupada com a vida concreta das pessoas”.

O Papa Francisco tem revelado uma aposta concreta na “renovação pastoral; renovação sinodal e renovação ecológica apontando novos caminhos de conversão pastoral, cultural, ecológica”, o que quer dizer, “tem-nos colocado o desafio de olhar “a fé como forma de habitar e transformar o mundo”.

A terceira e última noite das Jornadas centrou-se particularmente na questão ambiental, com dois conferencistas, os professores Miguel Areia e Félix Rodrigues, que falaram sobre “O que fazer para termos amanhã”.

O professor Universitário sublinhou a perda de sentido de pertença do homem contemporâneo, que se acha “dono da natureza” quando verdadeiramente o que “está em causa é responsabilidade e dever de cuidar”. E, para isso o conhecimento é “a chave da ação”.

“Todos temos direito a uma opinião, mas um caminho não pode ser sustentado apenas numa opinião, tem de ser fundamentado com o conhecimento”.

Para Félix Rodrigues é necessário que a sociedade “desperte e participe” não no sentido partidário mas no sentido de uma “cidadania ativa” ciente de que cada escolha “que fazemos tem impacto na natureza e na vida em sociedade”, adiantou.

O docente alertou para os comportamentos “excessivamente consumistas” de uma sociedade “marcada pelo desperdício” que nos convoca hoje para “o respeito.

“O ambiente é uma realidade de que fazemos parte, por isso, o ambiente, verdadeiramente, não precisa de respeito; só precisamos de o respeitar se nos desrespeitarmos a nós próprios” sublinhou ao lembrar que o essencial prende-se com o sentido da vida.

“A herança tem de ser uma herança de prosperidade” adiantou ainda desafiando os participantes a “tomarem conta do ambiente” para garantir o futuro, começando na família, nos amigos e “em cada escolha pessoal”.

Álvaro Areias, professor do ensino secundário na Escola Emiliano de Andrade, apresentou um projecto piloto desenvolvido na escola com vista ao tratamento de resíduos e preservação do ambiente, em 1994.

Estes encontros de reflexão inserem-se numa dinâmica pastoral que esta ouvidoria da ilha Terceira tem estado a implementar, procurando formar e informar, crentes e não crentes, numa perspetiva de cidadania esclarecida.

O plano pastoral da ouvidoria integra ainda outros momentos de reflexão e partilha, dirigidos aos agentes de pastoral, seja na área do aprofundamento bíblico, através da escuta e reflexão sobre a Palavra de Deus seja através de temas relacionados com a família, seja com o ambiente.

(Com Francisco Machado)

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