“O nosso património religioso está muito mal cuidado”, afirma ouvidor da Horta

Padre Marco Luciano Carvalho lamenta as faltas de atenção e de compromisso para com o património religioso por parte das entidades publicas

Um ano depois da inauguração do Museu de Arte Sacra da Horta, o seu diretor lamenta que alguns compromissos assumidos pelo Governo Regional no apoio e na priorização de medidas de valorização do património religioso continuem por cumprir.

“A palavra vale o que vale e a falta de investimento está à vista” refere o padre Marco Luciano Carvalho lamentando que o património religioso esteja “ muito mal cuidado”.

“Existem igrejas que estão a cair: convento de são Francisco, Igreja do Carmo, que precisa ainda de tanta intervenção. As grandes obras não se conseguem fazer porque as secretarias estão sem dinheiro, pelo menos para este tipo de obras” refere numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, depois do meio-dia.

“O que temos feito tem sido com o apoio da Câmara e, sobretudo, de particulares, pessoas de boa vontade que percebem e valorizam a importância deste património”.

O Diretor do Museu de Arte Sacra da Horta, que completou no passado dia 15 um ano de funcionamento, está agora apostado na transferência do espólio que se encontra à guarda do Núcleo de Arte Sacra do Museu da Horta para este novo espaço.

“O Museu da Horta foi muito importante e teve um papel relevante ao guardar muito deste espólio de arte sacra mas agora é hora de passarmos a uma nova etapa: existindo o Museu de Arte Sacra da Horta é necessário que pensemos de forma diferente e espero que 2023 seja o ano em que isto aconteça, com boa fé de todos, isto é, que  o espólio de arte sacra possa voltar para o lugar onde deve estar, para conseguirmos por ordem na casa” diz enfatizando que “não faz sentido haver dois núcleos de artes sacra tão próximos numa cidade como a Horta”.

O responsável deixa críticas aos políticos e aos poderes públicos em geral, lembrando que nem sempre têm cumprido com a palavra dada.

“Tivemos uma promessa da parte do Presidente do Governo Regional de um valor insignificante e que até hoje não foi cumprida” refere destacando que a abertura deste novo espaço museológico, o primeiro da diocese de Angra que reúne espólio de coleções particulares, foi feita com a ajuda da Câmara da Horta e, sobretudo de particulares.

Reconhecendo que muitas das obras necessárias e dos projectos a elas associadas exigem verbas volumosas, que a situação económica pode não permitir ,“há muita coisa que se pode fazer se houver vontade, mesmo com parcos recursos”.

“O museu financeiramente tem-se aguentado através da colaboração de muitas pessoas e das suas ofertas ; pessoas que sentem que isto é importante; pena é que as autoridades governamentais não apoiem estas iniciativas” refere.

E, exemplifica: “o facto de ser uma colecção particular não pode inviabilizar que esta coleção integre as colecções visitáveis dos Açores por aquilo que ela junta e reúne”.

Aliás, o sacerdote que é também ouvidor da Horta lamenta que os próprios agentes locais de pastoral, como a catequese, não percebam a importância destes espólios para a evangelização.

“Quando os de fora são os que visitam mais as nossas exposições temos de pensar que precisamos fazer uma grande sensibilização não só junto dos mais novos mas também dos mais velhos; é preciso educar para a fé, perceber que a catequese também se faz através da arte” refere.

“Os cristãos deixam-se embalar por certas práticas devocionais mas é preciso darmos um salto e nós padres temos de dar um sinal nesse sentido, com outro fervor”.

“Estes espaços devem ser vistos como meios de evangelização; através deles faz-se passar uma mensagem , mas também se dá a  conhecer a forma como se vive e concretiza a vivência da fé nestas ilhas”, adianta ainda.

O Museu num ano para além da exposição permanente já organizou quatro exposições temporárias, o “que não é pouco”, refere, sobretudo atendendo aos constrangimentos financeiros, mas também de quadros técnicos.

“Temos um técnico cedido pela autarquia e os restantes são voluntários; gente que quis emprestar o seu saber a este projecto, e contamos ainda com o apoio do economato da diocese que nos tem ajudado muito”, ressalva ainda.

“Para mim o Museu é tão ou mais trabalhoso que uma paróquia” diz lembrando que tem muitos sonhos por concretizar. Um deles vai ser concretizado já no próximo dia 14 de julho, altura em que será inaugurado o órgão de tubos da Igreja do Carmo, oferecido por um particular e cujo transporte foi assegurado pela Câmara municipal da Horta.

A entrevista do padre Marco Luciano Carvalho pode ser ouvida na íntegra este domingo depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

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