O Papa dos sapatos pretos que “quer mudar o mundo” através da proximidade

Francisco além do Papa simpático e amigo dos pobres, dá sinais de que quer mudar a cúria e pôr fim à falta de transparência nalguns procedimentos dentro da Igreja. Ao fim de uma ano de Pontificado, fica o desejo de concretizar mudanças.

O Papa vai completar esta quinta-feira um ano de pontificado, marcado pelas intervenções em favor da renovação da Igreja Católica e pela preocupação com as situações de pobreza e violência no mundo.

 

 

Francisco tem apelado insistentemente a uma Igreja “em saída” e atenta às “periferias”, centrando o seu discurso, teologicamente, na “misericórdia” de Deus.

 

“A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho”, escreveu no seu ‘programa’ de pontificado, a exortação apostólica ‘A Alegria do Evangelho’, na qual rejeita o que denomina de “economia da exclusão”, que “mata”, ao mesmo tempo que pede soluções para as “causas estruturais da pobreza” e todos os tráficos e novas formas de escravatura.

 

A mesma abordagem têm merecido os temas ligados à defesa da vida e do matrimónio, reafirmando a doutrina da Igreja Católica ao mesmo tempo que se pede atenção a cada caso particular. De resto, Francisco convocou um Sínodo sobre a Família enviando às igrejas particulares um questionário sobre as questões que devem nortear o acolhimento desta realidade marcada por tantas mudanças.

 

Também internamente tem procurado fazer diferente. Congelou salários, cortou com o luxo, demitiu o Secretário de Estado do Vaticano, mandou investigar as contas da Santa Sé, nomeou um conjunto de cardeais para reformar a burocracia da Igreja, prometeu tolerância zero à pedofilia e criou uma Secretaria da Economia para gerir as contas do Vaticano.

 

Em doze meses de Pontificado mostrou ser “um homem de governo”, mas suficientemente “humilde e próximo” para cativar os fieis e devolver à Igreja uma imagem de credibilidade recentrada naquilo que é essencial: a palavra de Deus.

 

“O Papa mostrou neste primeiro ano que quer mudar o mundo, quer partir do local para o global, quer recuperar o seu papel regenerador da humanidade”, algo que mostrou por exemplo na escolha das locais que visitou onde “cada destino foi escolhido a dedo para mostrar problemas de imigração, problemas económicos e cada gesto que fez nesses momentos foram para mostrar e incitar a algo”, declarou Octávio Carmo, chefe de redação da Agência Ecclesia, e um dos cinco jornalistas vaticanistas em Portugal, durante a conferência ‘Francisco: Um Papa do fim do Mundo’, promovida pela Agência Ecclesia, Rádio Renascença e Universidade Católica Portuguesa (UCP) para assinalar o primeiro aniversário do pontificado.

 

Para o chefe da redação da Agência Ecclesia a figura de Francisco “responde a uma necessidade de ter uma referência ética mesmo para quem não procura por ela, o Papa é incontornável e quer incomodar”, sendo que este último ano veio impor uma “simplificação do Papado” algo que “é importante numa liderança espiritual”.

 

“Francisco dá a todos uma lição mediática porque mostra uma coerência naquilo que é, faz e diz e essa é a maior lição do Papa”, concluiu Octávio Carmo.

 

O padre Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em declarações á Agência Ecclesia sustenta, por sua vez, que “o Papa Francisco tem sido uma primavera”, apresentando-se desde o início “como um pastor”.

 

Francisco, primeiro pontífice a escolher este nome, decidiu manter residência na Casa de Santa Marta, dentro do Vaticano, onde celebra diariamente uma Missa matinal cujas homilias têm deixado uma marca pessoal na reflexão sobre a Igreja; desloca-se em carros utilitários e apresenta-se como um “homem normal”, rejeitando “interpretações ideológicas” da sua figura.

 

Francisco encontrou-se por várias vezes com Bento XVI, seu predecessor, valorizando a figura do Papa emérito, ao qual reconheceu um papel fundamental da redação da encíclica ‘Luz da Fé’, a única publicada durante o pontificado, esperando-se que o próximo documento do género (os mais importantes assinados por um pontífice) seja dedicado ao tema específico da pobreza.

 

Ao longo do último ano, o Papa concedeu entrevistas à Globo, às revistas dos Jesuítas e aos jornais italianos ‘La Stampa’ e ‘Corriere della Sera’, além de ter conversado durante mais de uma hora com jornalistas na viagem de regresso do Brasil.

 

O país lusófono foi o único destino internacional de viagens (22-29 de julho de 2013), com passagens pelo Rio de Janeiro, onde chegou a ficar preso no trânsito, para a Jornada Mundial da Juventude, e pelo Santuário de Aparecida. Para Abril tem agendada uma viagem à Coreia do Sul.

 

O Papa, de 77 anos, fez ainda três viagens em Itália, com destinos simbólicos: em Lampedusa (8 de julho de 2013) lembrou a “globalização da indiferença”; na Sardenha (22 de setembro de 2013) encontrou-se com desempregados e trabalhadores afetados pela crise económica; em Assis (4 de outubro de 2013) evocou São Francisco, que o inspirou na escolha do nome e na intenção de uma “Igreja pobre para os pobres”.

 

O Papa argentino tem mais de 12 milhões de seguidores na sua conta da rede social ‘Twitter’ e foi eleito personalidade do ano 2013 pela revista Time, entre outras distinções.

 

Milhões de pessoas passaram pela Praça de São Pedro, para as audiências semanais e os encontros dominicais do ângelus, para além de iniciativas como o encontro com noivos, no último dia de São Valentim, a jornada de oração pela Síria (7 de setembro de 2013) ou as várias iniciativas ligadas ao Ano da Fé, que se concluiu em novembro do último ano.

 

Nestas intervenções, Francisco tem apelado à paz nas várias regiões do mundo afetadas por conflitos e manifestado solidariedade às vítimas de tragédias naturais

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