O Pico a puxar pelas pequenas

Por Renato Moura

Sou assinante do Jornal “O Dever”, da ilha do Pico. Faço-o por muitos motivos: um jornal que já vai com 103 anos; um dos que ainda resistem ao desaparecimento dos jornais em papel; um meio de luta pelos interesses do Pico e das suas gentes; um registo para a história dos eventos da ilha e não só; um espaço de cultura e opinião livre, mas de defesa dos valores; em homenagem ao esforço daqueles que o tornam possível, na direcção, na administração, como anunciantes, assinantes e leitores. E ainda por ter aprendido, através da experiência própria, o valor dos jornais e o penar para os tornar vivos.

O último titulava, a toda a largura da página “Serviço de Hemodiálise chegou ao Pico”. Fiquei a um tempo contente e triste. Triste por ser ainda apenas uma unidade de “cuidados aligeirados do Hospital da Horta” (a centralizadora!). Contente por se tratar de um serviço de grande utilidade para os picoenses, que lhes vem poupar imensas e penosas deslocações ou até mudanças de residência. Contente, pois, espero venha a ser mais um passo rumo à “independência” do Pico.

Sempre se deveria ter tido em conta que o Pico é a segunda maior ilha dos Açores, mas, ao longo de muitos anos, foi empurrada para o grupo das alcunhadas “ilhas pequenas”, um conceito não só maldoso, como fatal para todas.

Outrora conceptualizou-se cognominar a Ilha do Pico, como “Ilha do futuro”. Para os de boa vontade seria um caminho para o desenvolvimento e alcance do lugar a que tinha direito, pelas enormes capacidades. Mas os detractores utilizaram o título para adormecer legítimas aspirações, procurando incutir que nem a ilha, nem os habitantes, estavam preparados para dar um passo maior do que a vizinha. Que Deus perdoe a quem empurrou os picoenses para as guerras internas, nomeadamente dos portos e dos centros de saúde, criando o ambiente para que nada ali se fizesse capaz de ensombrar a vizinhança. Infelizmente goraram-se as esperanças de que os picoenses que chegaram ao Governo fossem capazes de eliminar o abominável espírito de “cabeça de distrito”!

Alegro-me pelo Pico hoje já ser uma “ilha do presente”, com enorme desenvolvimento a muitos níveis, nomeadamente de oferta turística variada e de qualidade.

Os picoenses e as suas autarquias já correm unidos na legítima defesa dos interesses gerais. Conseguem afirmar e propalar as potencialidades e bons serviços que oferecem. Vão adiante a demonstrar que nos Açores não são importantes só as ilhas mais populosas onde houve capitais de distrito.

Mas o Pico e as outras também.

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