O SENHOR RESSSUCITADO: ESPERANÇA QUE NÃO ENAGNA

Homilia De Dom António para o Domingo de Páscoa.

«Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria» (Sl  117)! Assim se exprime a liturgia da Igreja, neste Domingo da Páscoa da Ressurreição, convidando-nos à alegria da esperança.

 

1.A Páscoa é a grande festa da Igreja, porque a Ressurreição de Jesus está na base da fé cristã. Como explica S. Paulo, «se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé… Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos (2 Cor 15, 19-20). «Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e, depois, aos Onze. Em seguida,  apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive… Em último lugar apareceu-Me também a Mim» (1 Cor 15, 3-8).

 

 

A Ressurreição de Jesus não é, pois, um mito religioso. Faz parte do credo primitivo dos cristãos, repetido à saciedade pelos evangelistas e escritores sagrados. Na 1ª leitura, escutámos a pregação de Pedro: «Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez, no páis dos Judeus e em Jerusalém; e eles mataram-No, suspendendo-O na Cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se… às testemunhas de antemão designadas…».

 

 

Esta é a certeza inabalável de Pedro, após Pentecostes. Mas, naquela manhã de Páscoa, quando as mulheres alvoroçadas começaram a fazer circular a notícia – «levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram» – os Apóstolos mostraram-se cautelosos, o que só abona em favor do seu testemunho. Aquilo que se dizia parecia-lhes um desvario de mulheres.

 

 

No entanto, correram também eles ao sepulcro, para averiguar o acontecido. Conforme o texto evangélico, «Pedro partiu com o outro discípulo e foi também ao sepulcro… Entrou… e viu as ligaduras no chão e o sudário… enrolado à parte». Lucas esclarece que Pedro «voltou para casa admirado com o que tinha sucedido». Portanto, sem falar de Ressurreição.

 

 

Depois dos sucessivos encontros com o  Ressuscitado,  é que poderá testemunhar sem rodeios: «comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos». O discípulo predileto, S. João, segundo o próprio evangelista, é que «viu e acreditou», desde o início. «Viu» o quê? Viu o sepulcro vazio e lembrou-se, então, do que dizia a Escritura, «segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos».

2.  «O Senhor Ressuscitado é a esperança que nunca esmorece, que não engana (cf Rm 5, 5)…  A quantos nos perguntarem a razão da nossa esperança (cf 1 Pd 3, 15), indiquemos Cristo Ressuscitado» – recomenda-nos o Papa Francisco (O Mistério da Igreja- Catequeses do 1º Ano de Pontificado, Paulus, 2014, p. 17).

 

 

«A Sua Ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou no mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer, por todo o lado, os rebentos da ressurreição..  No meio da obscuridade, começa sempre a desabrochar algo de novo… que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto…

 

 

«Haverá muitas coisas más, mas o bem tende sempre a reaparecer e a espalhar-se. Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada, através dos dramas da história… O Reino de Deus já está presente no mundo… A Ressurreição de Jesus produz, por toda a parte, rebentos deste mundo novo… Jesus não ressuscitou em vão…» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 2013, nn. 276 e 278).

 

 

Aqui está o fundamento da esperança cristã, que não é mera probabilidade de algo que possa acontecer, mas firme certeza da vitória da vida e da história humana, mesmo no meio das contradições de um mundo «globalizado», onde parece que os mais débeis, os mais pequenos e os mais pobres pouco podem esperar.

 

 

É neste mundo, que tem de brilhar a esperança cristã, que, com a força da Ressurreição,  nos compromete, aqui e agora, dando o nosso contributo para ajudar a construir uma sociedade à medida humana.

 

 

É o que significa celebrar a Páscoa, «não com fermento velho…, mas com os pães ázimos da pureza e da verdade – como exorta S. Paulo, perguntando: «não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa… (2ª leitura)?

 

 

Num mundo em crise, tenhamos a coragem da esperança, lançando à terra sementes de justiça com amor e de liberdade com verdade, certos de que, a seu tempo, hão-de germinar e frutificar. São estes os meus votos, nesta Páscoa de 2014.

+ António, Bispo de Angra

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