O tempo da Fé e a comunicação

Por Rolando Lalanda Gonçalves*

A dimensão simbólica e comunicacional da ação tem uma “força” que muitos tendem a minimizar. Olhar para São João Paulo II, num dia 11 de Maio como hoje, ajoelhado diante da imagem do Senhor Santo Cristo, na simplicidade de uma oração, que parecia não ter fim, e só interrompida pelo puxão nas vestes papais pelo Bispo D. Aurélio Escudeiro, marcou os que a presenciaram na medida em que mostrou o confronto entre as múltiplas dimensões do tempo (a do momento e da intemporalidade) e da relação que estas qualificam.

Com efeito, a força de uma mensagem não resulta apenas da mensagem verbal, mas da meta-comunicação que resulta das relações, com os outros, que a qualifica o que “realmente” se quer significar. Assim, o olhar de São João Paulo II ao longo do seu Papado na sua progressiva diminuição física não fez perder força à mensagem que irradiava porque, radicalmente humana, fazia sentir às pessoas os grandes dilemas de vida.

A centralidade de Cristo, como referente maior, da mensagem (verbalizada ou meta-comunicada) conduziu São João Paulo II a uma nova forma de comunicar o Evangelho. E, nesta temporalidade onde as viagens apostólicas se realizaram, com um especial significado, a figura Papal de São João Paulo II aparecia com “realmente” uma forma atualizada da imagem do peregrino que leva a Boa Nova de forma simples e descomplexada.

Hoje, na mesma perspetiva, o Papa Francisco retoma esta “lógica” de ação pastoral. Não deixa de ser significativo que este Papa na exortação Apostólica Evangelii Gaudium afirme: “A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quando se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria.”

Esta alegria manifesta-se como pressuposto (sem tempo) e não como consequência de um qualquer comportamento (no tempo). Esta forma de conceber a comunicação radica, por isso, na Fé. E, porque a mensagem de Cristo deve ser transmitida nos seus fundamentos essenciais, o que realmente “está em causa” é atrair para Cristo. A Alegria está profundamente ancorada na vida e nos seus múltiplos dilemas. A simplicidade e a empatia que se encontram em São João Paulo II e no Papa Francisco radicam, por isso, na “forma” como se aceita a salvação do Dia de Páscoa: a Ressurreição como Vida em Cristo, por Cristo e com Cristo, num tempo sempre presente que confere sentido às múltiplas circunstâncias da Vida.

É, por isso, sintomática a empatia destes dois Papas com a juventude cuja irreverência se revê na autenticidade e congruência das mensagens que ganham significado nos diferentes momentos da vida. Onde estou? Para onde vou? E o que posso dizer acerca disto ou daquilo e o que é que “isto” significa? continuam a ser questões fundamentais para quem começa a entrar nas múltiplas problemáticas dos adultos.

Esta forma de comunicar, no tempo, que convoca a atualidade (e a Alegria) do Evangelho tem vindo a marcar o Pontificado do Papa Francisco, que com naturalidade e simplicidade acentua uma forma de viver a vida quotidiana. A denúncia da “economia que descarta” nas sociedades ocidentais e a exortação ao acolhimento por parte das comunidades cristãs aqueles que são “diferentes” confronta e reconforta aqueles que se sentem excluídos deste “Mundo”. E esta forma de identificação com Cristo (re) atualiza da mensagem da Boa Nova.

João Paulo II e o Papa Francisco dão continuidade a um tempo sem tempo que configura a comunicação na Fé.

`Rolando Lalanda Gonçalves é sociólogo e há 25 anos era membro do Governo Regional dos Açores

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