Papa destaca Beato Paulo VI como «cristão corajoso» e «timoneiro do Concílio» Vaticano II

Paulo VI é o 13º papa beatificado. Cerimónia decorreu no fim da terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos bispos sobre a família que constituiu “uma grande experiência” com atenção “ás feridas da humanidade”

O papa Paulo VI foi hoje beatificado no Vaticano, numa cerimónia que constitui também uma homenagem ao pontífice que concluiu o Concílio Vaticano II e instituiu a realização de mais um sínodo dos bispos, uma estrutura que ele próprio criou.

A cerimónia decorreu no fim da terceira assembleia geral extraordinária do sínodo dos bispos, desta vez sobre o papel da família.

O Papa Francisco destacou Paulo VI como um “cristão corajoso” que soube liderar a Igreja Católica no seu tempo perante um mundo em mudança.

“A respeito deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI”, declarou, na homilia da Missa, com rito de beatificação, provocando uma salva de palmas das dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.

Francisco, que tem manifestado em diversas ocasiões a sua admiração pelo Papa que beatificou esta manhã, agradeceu-lhe pelo seu “humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja”.

A intervenção citou o diário pessoal de Paulo VI, “o grande timoneiro do Concílio”, depois do encerramento da assembleia conciliar, em 1965, para mostrar a “humildade” do Papa italiano.

“Nesta humildade, resplandece a grandeza do Beato Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o leme da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor”, prosseguiu.

A Missa, concelebrada pelo Papa emérito Bento XVI, assinala ainda o final da terceira assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos, um organismo consultivo instituído pelo próprio Paulo VI.

Francisco disse que as duas semanas de debate foram uma “grande experiência”, vivida com “verdadeira liberdade e humilde criatividade”, projetando o Sínodo ordinário dos Bispos em outubro de 2015.

“Foi uma grande experiência, na qual vivemos a sinodalidade(caminhar juntos) e a colegialidade e sentimos a força do Espírito Santo que guia e renova sempre a Igreja, chamada a cuidar sem demora das feridas que sangram e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança”, declarou.

“Semeamos e continuaremos a semear, com paciência e perseverança”, disse ainda.

A homilia do Papa partiu do que este classificou como “uma das frases mais célebres de todo o Evangelho”: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22, 21).

“Obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!”

Francisco declarou que esta “frase irónica e genial” recorda que “só Deus é o Senhor do homem, e não há outro”.

“Esta é a novidade perene que é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes sentimos perante as surpresas de Deus”, prosseguiu.

Neste sentido, o Papa sustentou que a ação divina leva a Igreja para “caminhos inesperados” que um cristão que vive o Evangelho é “a novidade de Deus, na Igreja e no mundo”.

“Dar a Deus o que é de Deus» significa abrir-se à sua vontade e dedicar-lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz”, precisou.

Paulo VI foi alguém que “soube «dar a Deus o que é de Deus», dedicando toda a sua vida” a este dever, “amando” e “guiando” a Igreja, disse Francisco.

Esta confiança, acrescentou, “é a força” dos cristãos, o “sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo predominante” que o mundo propõe, para “responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos”.

A beatificação ocorreu pouco depois do início da celebração, com a declaração oficial em latim, a que se seguiu a colocação das relíquias – um fragmento ensanguentado da roupa do novo beato, aquando do atentado em Manila (1970) – junto ao altar.

O processo de beatificação de Paulo VI, iniciado em 11 de maio de 1993, foi aprovado em maio deste ano pelo Papa Francisco, cinco dias depois de os cardeais e bispos da Congregação para a Causa dos Santos considerarem válido um milagre atribuído à intercessão de Paulo VI.

Com a beatificação de Paulo VI é elevado para 13 o número de papas que foram beatificados pela Igreja Católica.

Giovanni Montini, que escolheu o nome de Paulo para mostrar a sua missão de propagação da mensagem de Cristo, tornou-se papa a 21 de junho de 1963, tendo sido o primeiro líder da Igreja Católica a viajar pelos cinco continentes e o primeiro a conversar com o líder da Igreja Anglicana e com os dirigentes das diversas Igrejas Ortodoxas do Oriente.

Na cerimónia, além do papa Francisco, esteve presente o emérito Bento XVI, que em dezembro do ano passado autorizou a avaliação da Congregação para a Causa dos Santos em relação à ”heroicidade das virtudes” do pontífice que o havia designado cardeal, no final dos anos 1970.

O Bispo de Angra esteve também presente nesta cerimónia.

D. António de Sousa Braga é o único bispo português em funções ordenado pelo beato Paulo VI, em maio de 1970.

Para o prelado diocesano Paulo VI é o “grande pioneiro”, um homem “de coragem que soube dar corpo à iniciativa de João XXIII não só prosseguindo o concilio mas procurando aplicar as suas diretrizes num tempo de grande resistência e dificuldade”.

 

Ecclesia/Reuters/Lusa

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