Papa rejeita cenário de «guerra de religiões»

Francisco comenta assassinato de sacerdote francês e fala num «mundo em guerra»

O Papa Francisco disse hoje que o mundo vive uma “guerra”, mas rejeitou que a mesma seja uma “guerra de religiões”, evocando o sacerdote francês assassinado esta terça-feira durante a celebração da Missa, ataque reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico.

“Alguém poderá pensar que estou a falar de uma guerra de religiões. Não: todas as religiões querem a paz. A guerra querem-na os outros, entendido?”, disse aos jornalistas que o acompanharam desde Roma para a sua viagem à Polónia.

Francisco disse esta tarde no avião, a caminho de Cracóvia, que “o mundo está em guerra”, comentando o assassinato do padre Jacques Hamel, na sequência da tomada de reféns na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, próximo de Rouen, norte de França, que acabou também na morte dos dois terroristas que executaram o ataque, ligados ao Daesh.

O pontífice agradeceu as condolências recebidas neste momento, em particular as do presidente de França, François Hollande.

“Repete-se muito a palavra segurança, mas a verdadeira é guerra. O mundo está em guerra, guerra aos bocados”, alertou Francisco, reforçando a ideia de que se assiste a um terceiro conflito global, despois das Guerras Mundiais do século XX.

Em relação a estes conflitos, o Papa entende que a guerra não é tão “orgânica”, mas é “organizada”.

“É guerra. Este santo sacerdote (Jacques Hamel) foi morto precisamente no momento em que oferecia a oração pela paz, é um dos muitos cristãos, tantos inocentes, tantas crianças”, advertiu, numa denúncia das perseguições religiosas no mundo.

Francisco deu como exemplo a situação na Nigéria, refutando a ideia de que é preciso desvalorizar situações como esta no continente africano.

“Não podemos ter medo de dizer esta verdade: o mundo está em guerra porque perdeu a paz”, insistiu.

A visita à Polónia acontece por ocasião da 31ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a decorrer até domingo, e o Papa espera que os jovens sejam sinal de “esperança” neste momento.

Após saudar um a um os 70 jornalistas de 15 países, o Papa voltou a pegar no microfone para sublinhar que estava a falar de “uma guerra a sério, não de guerra de religiões”.

“Falo de guerra de interesses, por dinheiro, por causa dos recursos naturais, pelo domínio das populações”, precisou.

Francisco deixou Roma pelas 14h00 locais (menos uma em Lisboa) e dirigiu, como é tradição, uma mensagem ao presidente da Itália, Sergio Mattarella, falando da JMJ como um encontro de “jovens provenientes de todo o mundo para um encontro significativo marcado pela fé e fraternidade”.

À chegada ao aeroporto internacional de Cracóvia, menos de duas horas depois, o Papa foi recebido pelo presidente da Polónia, Andrzej Duda, e pelo arcebispo da diocese, cardeal Stanislaw Dziwisz.

Durante a visita de cinco dias, Francisco vai participar nas cerimónias da JMJ, visitar o santuário mariano de Czestochowa e prestar homenagem às vítimas dos campos de extermínio nazi em Auschwitz-Birkenau.

Esta é a 15ª viagem internacional do atual pontificado e a primeira do Papa à Polónia, em toda a sua vida.

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