Papa tem «poder da palavra» face à «palavra dos poderes»

Adriano Moreira destaca desafios colocados a Francisco pela «fragmentação» do mundo contemporâneo.

O professor universitário Adriano Moreira disse hoje em Lisboa que o primeiro ano de pontificado de Francisco tem sido marcado pelo uso do “poder da palavra” contra a “palavra dos poderes”, num mundo em fragmentação.

 

“O exemplo é uma das formas mais convincentes dessa palavra, uma lição de São Francisco”, declarou, durante a conferência ‘Francisco: Um Papa do fim do Mundo’, promovida pela Agência Ecclesia, Rádio Renascença e Universidade Católica Portuguesa (UCP) para assinalar o primeiro aniversário do pontificado.

 

Adriano Moreira observou que, “embora curto”, o ministério de Francisco gerou uma “comprovada emoção”, a começar pela escolha do nome do Papa.

 

O bispo de Roma, que os cardeais “foram buscar ao fim do mundo”, foi apresentado como uma referência para um “século sem bússola”, representando a “ética cristã” que ao longo da história tem inspirado o respeito pela “dignidade humana”.

 

O antigo líder do CDS afirmou que Francisco se insere numa “série da Papas humanistas” e enfrenta hoje o desafio de um “cisne negro chamado globalismo”.

 

“O credo do mercado substituiu o credo dos valores”, ameaçando o “paradigma da dignidade humana”, advertiu, numa referência crítica ao domínio dos “centros de poder financeiro”.

 

Adriano Moreira recordou que a afirmação feita pelo Papa de que “esta economia mata” provocou “alvoroço”, frisando que Francisco “lembrou a doutrina conciliar, que afirmava o privilégio dos pobres”.

 

Face a uma “tormenta financeira global” e à “transformação do Mediterrâneo num cemitério”, o Papa argentino tem apelado a “não substituir o valor das coisas pelo preço das coisas”.

 

O professor universitário sustentou que as “fragmentações” provocadas pelo “globalismo”, também dentro da própria União Europeia, começam a “exigir grande atenção”.

 

“O inesperado está à espera de uma oportunidade”, alertou, antes de declarar que a “arquitetura do desenvolvimento em paz” está em causa, face à “quebra de valores”, o aumento da pobreza e a ameaça de “conflitos militares”.

 

“A declaração de impostos arrisca-se a apagar a declaração de direitos e deveres dos cidadãos”, acrescentou.

 

O cónego João Aguiar Campos, diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, destacou, em comentário à conferência, disse que Francisco é um homem de “esperança”, que propõe a “opção pelos últimos” e um compromisso social com “denúncia profética”.

 

O programa da iniciativa inclui análises ao pontificado pela voz de Alfredo Bruto da Costa, Manuel Fúria, Margarida Neto, Aura Miguel, Octávio Carmo, Henrique Monteiro e Pedro Mexia.

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