Pecados capitais versus remédios espirituais voltaram a ser tema na Praia

Foto: Igreja Açores/MJ/DT

A gula e a avareza em contraponto com a justiça e a temperança foram o tema da terceira catequese da ouvidoria da Praia

Realizou-se esta quarta-feira a terceira catequese quaresmal  “Santos, Sãos e Salvos”, na ouvidoria da Praia, desta feita procurando descodificar os pecados da “avareza e  gula”, opondo-lhes a “justiça e temperança’, tendo sido oradores os psicólogos Letícia Leal e Alvarino Pinheiro e o cónego Hélder Fonseca Mendes.

Referindo-se aos dois pecados- gula e avareza- como uma relação doentia com a realidade, seja com a comida seja com os bens materiais, os dois psicólogos, técnicos da Santa Casa da Misericórdia da Praia, lembraram que todos os excessos “são perniciosos” e , na sua maioria, resultam de “comportamentos compulsivos” de “desejos desregrados” que, quando não atendidos podem transformar-se em situações patológicas.

“A gula que habitualmente remetemos para questões do foro alimentar resulta do desejo desregrado de alguma coisa” afirmou Letícia Leal.

“Quando queremos uma coisa em excesso é sempre mau” disse ainda a psicóloga lembrando que, muitas vezes, o chamado pecado da gula “é mais do que comer demais”;  resulta da “falta de consciência com o tempo presente, procurando compensações para frustrações ou consolo para insuficiências”.

Alvarino Pinheiro, por outro lado, falou do pecado da avareza, “que tem um profundo impacto social”.

A partir de um paralelismo entre pecado e crime, o psicólogo falou de culpa e da ausência dela; da opção consciente por uma atitude ou comportamento de forma deliberada sem considerar as consequências e o impacto perante terceiros e a falta de compaixão, destacando a avareza como “uma manifestação de egoísmo e de ganância”, não só por bens materiais mas por falta de consideração pelo outro.

“Uma pessoa avarenta, muitas vezes, esconde por detrás do seu comportamento uma enorme fragilidade e um déficit de auto-estima considerável”, disse ainda.

Já o cónego Hélder Fonseca Mendes falou destes pecados como sendo “de um tempo muito atual” e, a partir da sagrada Escritura e do pensamento de alguns teólogos, lembrou que a Igreja apresenta sempre antídotos contra eles, que radicam na escuta e no cumprimento da Palavra de Deus, opondo-lhes a temperança e a justiça.

O sacerdote lembrou que a justiça e a temperança são duas virtudes cardeais que devem acompanhar o comportamento de qualquer cristão, dado que têm subjacentes “a prudência, a razão, a moderação, a devoção, a oração e a entrega oblativa”.

“Na justiça não me estou a centrar em mim nem no meu desejo mas no bem do outro” destacou salientando que “é uma virtude exigente” que exige, sobretudo, “responsabilidade e bondade” disse por fim apelando de forma implícita à “generosidade”, uns com os outros, com quem mais precisa e também com a natureza.

As catequeses quaresmais ‘Santos, Sãos e Salvos’, começaram no dia 28 de fevereiro e terminam a 20 de março, abordando os chamados “pecados capitais”.

“Estas catequeses Quaresmais  foram pensadas, sobretudo, na procura de atualização daquilo que é o itinerário do caminho Quaresmal que é também ascético, de conversão, que convida a uma reflexão mais íntima sobre a vida, com vista a essa conversão permanente”, disse o padre Nelson Pereira, ao sítio Igreja Açores.

A próxima catequese será na Fonte do Bastardo , a 20 de março, e serão abordados a luxúria e a soberba, a castidade e a humildade.

A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), de preparação para a Páscoa, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência.

(Com Mário Jorge e Dinis Toledo)

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