Política de resultados

Por Renato Moura

O mundo vive um período extremamente difícil, causado por decisões injustificáveis. Cá dentro há outros fenómenos estranhos.

O poder cavalga uma intolerância inaceitável. Há dias era o Primeiro-ministro a insurgir-se, com inusitada veemência, pelo facto de alguém ter duvidado das razões, ditas de saúde, do pedido de demissão duma Secretária de Estado! Foi a desusada irritação – no modo e no tom – da Ministra da Saúde, perante uma declaração (ainda que talvez sem fundamento) duma líder partidária, cuja influência nas leis e no Governo ainda recentemente era acolhida e decisiva! Também o permanente sorriso irónico do Ministro das Finanças, face a intervenções da oposição, é impróprio e não corresponde à esperada postura política de alguém tão experiente.

Não há lei, ou boa prática política capazes de justificar algumas atitudes. Quando uma Ministra da Saúde, ou um qualquer membro de um governo, declarar “condenação veemente” sobre uma declaração da oposição, é uso de linguagem inadequada, é clara inversão dos poderes.

As promessas dos governos estão no programa, nos planos e orçamentos. Depois, como até se designam de executivos, há que realizar muito e não falar demais. Fazer política com resultados.

Assim já repugna, não só, mas principalmente por useira e vezeira, nos mais diversos governos, a prática de os executivos criticarem as oposições, numa clara inversão dos papéis. O papel de fiscalização é das oposições e não o seu contrário. Aos executivos cabe o dever de provar a justeza e a bondade das suas propostas, projectos e decisões. Se o fazem procurando justificá-las como menos más, em comparação com os decisores anteriores, estão a medir-se por baixo; há lamentável falta de aspiração.

E o que dizer quando repetem os erros antes criticados? E o que pensar se, como os anteriores, nomeiam para os cargos, familiares, amigos e gente dos partidos sem qualificação adequada?

Que exemplos dão?!

Vi, recentemente, um grupo grande de pessoas (incluindo um deputado) à espera de serem atendidos, muito para além da hora marcada, num centro de inspeção de viaturas a funcionar apenas umas três dezenas de dias no ano, com a complacência deste Governo Regional; tal como do anterior. Estranhezas: um ambiente de boa disposição e alguém declarava “temos de nos sujeitar”! Um evidente sinal de um povo já formatado para pacientemente “comer e calar”?! Muito preocupante. Esta democracia, aqui, ainda inclui liberdade e direito à indignação?

Brecht disse: Os homens que lutam toda a vida são imprescindíveis.

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