Quando a esmola é grande…

Por Renato Moura

Conheci umas pessoas interessantes, acostumadas a contar umas histórias curiosas, mas não reais; e tantas vezes as repetiam, da mesma maneira, a modo de aos ouvintes parecer que eles já as consideravam verdadeiras!

O Governo da República, com a apresentação do orçamento para 2023 têm-nos massacrado com slôganes. Afirma-se um futuro com crescimento económico, baixa taxa de desemprego, elevadíssimo nível de emprego, horizonte de estabilidade e previsibilidade na evolução dos salários, melhoria de rendimentos e redução de impostos, capacidade de produzir riqueza, capacidade de o Estado apoiar as famílias e as empresas, crescimento do investimento público e privado, crescimento das remunerações, actualização histórica das pensões e até reduzir as incertezas sobre o futuro. Anunciam-se mesmo objectivos quantificados, como redução da previsão de um défice orçamental de 1,9 em 2022 para 0,9% em 2023, prosseguir a estratégia de redução da dívida na casa dos 110,8% reduzindo-a em 4,2% em face do que temos hoje, estimativa de taxa de inflacção para 2022 em 7,4% e redução para 4% em 2023.

Isto tudo nos foi prometido pelo Ministro das Finanças, apesar de ele mesmo reconhecer degradação do contexto externo com motivos e acontecimentos de carácter negativo e abrandamento da economia europeia e “estarmos inseridos em espaço da zona euro que vai conhecer um processo de desaceleração com significado, mas ainda assim Portugal vai conseguir que essa desaceleração seja menor do que na generalidade dos países da zona euro, do que na média da zona euro, e conseguir ainda assim um resultado de crescimento positivo”.

Tudo realçou Fernando Medina e ainda confiante em nos embalar, garantiu estar preparado para o que der e vier, fazendo o orçamento sobreviver à guerra e às imprevisibilidades, rumo à “mudança estrutural que acontecerá nas finanças públicas portuguesas e na economia portuguesa no final de 2023”.

Que mais poderiam os portugueses desejar para passar a ser felizes?!

Só que veio o FMI afirmar: “A incerteza é muito elevada”, “Os riscos em torno da estabilidade financeira estão a crescer”, “O pior ainda está por vir”, “Cenário muito sombrio para a economia global em 2023, admitindo recessão em vários países”. E assim acordou quem sonhava!

“Estabilidade, confiança, compromisso” é o lema do orçamento. O que acontecerá quando o Governo perceber que perdeu a água no leme?

Fica esta partilha para a reflexão das famílias e das empresas; e a pensarem se, à cautela, deverão pôr já as barbas de molho.

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