Realidade social atual pede «maior coragem» e «ousadia»

Encontro nacional da Pastoral Social em Fátima apontou ainda para a importância da proatividade e do trabalho em rede no setor

O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social acredita que o encontro geral do setor, que terminou hoje em Fátima e no qual participaram dois membros do Serviço Diocesano da Pastoral Social da Diocese de Angra- Pe Ciprinao Pacheco e Vitória Furtado- , vai motivar os agentes católicos a enfrentarem “com maior coragem” os dramas humanos que são chamados a resolver.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre José Manuel Pereira de Almeida recorda as “muitas pessoas” que se dedicam, “no quotidiano”, a “transformar uma realidade que é difícil” e que precisam de ser ajudadas para não baixarem os braços.

Aberto na terça-feira, o encontro nacional de Pastoral Social teve como tema a “Dimensão social do anúncio do Evangelho”, retirado do 4.º capítulo da exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, do Papa Francisco.

Na opinião do padre José Manuel Pereira de Almeida, cada um dos participantes teve a oportunidade de “ler melhor ou ler mesmo” os desafios contidos naquele documento.

Uma aprendizagem que se deverá agora traduzir em “gestos ousados”, no meio daqueles que mais precisem e em “palavras oportunas de denúncia e anúncio do muito bem que existe e das injustiças existentes”, frisa aquele responsável.

Um dos aspetos “sublinhados” ao longo dos três dias de reunião foi a necessidade de cada cristão assumir maior “protagonismo” no campo da Pastoral Social, de cada paróquia ou comunidade estar atenta aos problemas das pessoas e ser proactiva na sua resolução, sem estar à espera de uma orientação “central”.

“Há muitas ideias que se podem compaginar e complementar. No concreto da realidade cada comunidade saberá hierarquizar as suas prioridades e enfrentar os problemas trabalhando em rede para que eles possam ser resolvidos da melhor maneira possível”, aponta o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social.

Em causa está a importância de erradicar do setor “uma mentalidade que não trabalha em equipa, que exclui e não resolve” e também a “indiferença” de quem pensa que já faz o suficiente.

“Importa de facto ir mais longe, trabalhar com outros, com humildade, fazendo o que é possível sabendo que diante dos desafios existentes há seguramente coisas para poder aprender com o Papa, nos seus gestos e nas suas palavras”, concluiu o padre José Manuel Pereira de Almeida.

O encontro foi encerrado pela presidente do Banco Alimentar contra a Fome. Isabel Jonet sublinhou a importância de se encontrarem respostas diferentes para os problemas atuais que são “inúmeros” mas que exigem “inovação social”.

“Temos hoje um conjunto de pessoas que revestem uma nova forma de pobreza, nomeadamente famílias que nunca imaginaram que estariam nessa situação, que estão desempregadas, com créditos, e são requeridas novas respostas às quais não estávamos habituados”, revelou a presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares.

À Agência ECCLESIA, Isabel Jonet explicou que esta nova realidade apresenta uma “certa componente de inovação social” e, sobretudo, “uma necessidade de afeto e atenção” com as instituições sociais “sabem lidar menos bem do que com a assistência pura e dura que era hábito”.

Sobre os chamados “profissionais da pobreza”, a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome assinala que com as “novas ferramentas é cada vez mais fácil assegurar a transparência” mas acrescenta que cada pessoa “tem direito à sua dignidade e às suas escolhas”.

“Quando se ajuda uma família deve-se acautelar que essa família quer deixar de ser pobre e não encare a assistência como forma de vida. É preciso haver acompanhamento, supervisão para que se quebrem ciclos de pobreza porque em Portugal há a transmissão intergeracional da pobreza”, desenvolveu.

Para a responsável os portugueses “querem ver cada vez mais que a sua generosidade é bem utilizada” e querem ver transparência nessa aplicação pelas organizações de solidariedade social”, explicou a presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares.

Questionada sobre a participação dos cristãos na política a responsável destacou que considera este exercício de serviço público “a expressão maior de bem comum que pode existir” quando não existe a “necessidade de ter cargos ou reconhecimento”.

Isabel Jonet considera também que “há todo um trabalho a fazer” e que “aos partidos competiria fazer uma lavagem interna” para recuperarem o que “é o serviço público e que é a maior nobreza que pode haver no exercício da política”.

No 29º Encontro da Pastoral Social, a conferencista assinalou que hoje existe “muito voluntarismo” que por vezes “se sobrepõe” às respostas que já existem nas paróquias/freguesias e alerta que é preciso fazer este exercício da solidariedade de forma integrada “para que não seja necessário” e “não como exercício de poder que desvirtua a noção de amor que o Papa propõe”.

Nesse sentido, interlocutora destaca que Portugal tem “a sorte de ter muitas estruturas”, a maioria ligadas à Igreja Católica, “que dão uma resposta social muito boa, adequada às necessidades da população”, nomeadamente às pessoas mais envelhecidas.

A presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares alerta também para a necessidade de “mais gestão”, das instituições trabalharem em rede porque “os recursos são escassos”.

“É possível com todas as novas tecnologias e ferramentas partilhar recursos e introduzir técnicas de gestão e organização”, acrescenta a responsável que aconselha também que as instituições sociais aceitem “o apoio de voluntários com competências específicas”.

 

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