Remar contra a exclusão social e a pobreza em São Miguel

Projeto de intervenção social já completou seis anos

O Centro Comunitário Cais do Remar é hoje um dos principais polos dinamizadores da vida na freguesia dos Fenais da Ajuda, na costa Norte da ilha de São Miguel e apoia cerca de uma centena de pessoas nas suas sete oficinas, incluindo também, o acompanhamento dos toxicodependentes em programas de metadona.

Este projecto de intervenção social, de luta contra a exclusão e a pobreza, foi criado em 2008, resulta de um contrato local de desenvolvimento social que tem como entidade gestora o Centro Social e Paroquial da Maia e vive do voluntariado de três irmãs doroteias e outras pessoas de “boa vontade” que ajudam e, simultaneamente estimulam novas competências sociais.

O Centro comunitário aposta na formação e integração social que “levam a pessoa a ser protagonista da sua própria história” e o trabalho desenvolvido é assegurado por duas técnicas de serviço social que além de monitorizarem todas as oficinas e ateliês fazem também o encaminhamento social das famílias com mais problemas na freguesia.

“Toda a gente bate a esta porta e os que aqui trabalham, nomeadamente as técnicas de ação social orientam as pessoas para as diferentes respostas disponíveis seja as que damos diretamente seja aquelas que precisam de outro tipo de intervenção” disse ao Sítio Igreja Açores o ouvidor dos Fenais de Vera Cruz, o Pe Carlos Simas.

“Esta zona estava muito desprotegida e temos aqui problemas gravíssimos de toxicodependência. Por isso este centro foi uma resposta muito positiva” adianta ainda o sacerdote que acompanha de perto as atividades desta extensão do Centro Social e Paroquial da Maia, presidido pelo Pe Nelson Vieira.

Atualmente o Centro comunitário, cuja presença assídua das irmãs Doroteias Judite, Maria Amélia e Rosário, congregação que está na génese deste trabalho de intervenção social “é fundamental”, aposta no apoio à reabilitação de toxicodependentes (19), no atendimento e no aconselhamento de pessoas e famílias com problemas sociais, no diagnóstico de situações, no encaminhamento e na gestão de conflitos.

A filosofia deste projeto assenta na criação de oficinas de trabalho em diferentes áreas como ass artes, as letras, a culinária, os computadores, a cultura, a horticultura, costura e animação sócio familiar, com a oficina de crescimento. O centro possui, ainda, um espaço solidário onde se vendem, a preços absolutamente simbólicos, alguns dos trabalhos desenvolvidos nas oficinas ou vestuário e calçado em segunda mão.

“Nós preferimos trabalhar as periferias e estas são as nossas periferias, para utilizar uma palavra muito em destaque agora e, por isso, fazemos este trabalho com muito carinho”, disse ao Sítio Igreja Açores a Irmã Judite Moinheiro.

Todos os projetos têm uma dinâmica semanal regular, com um número de participantes “mais ou menos assíduo”, mas há um que já ultrapassa as fronteiras da casa. O sucesso da hora do conto foi de tal forma que o Centro foi convidado a ir à escola básica dos Fenais da Ajuda, uma vez por semana, contar um conto a todas as turmas desde a pré primária até ao quarto ano. E, em janeiro, vai começar a fazê-lo também nas escolas da Maia e do Porto Formoso.

“Vai sempre uma técnica e procuramos envolver um pai ou um voluntário da comunidade para que este momento seja mais vivido”, sublinha a religiosa.

O centro dá ainda apoio a crianças (11) na elaboração dos trabalhos de casa, funcionando como um apoio escolar suplementar.

Nesta quadra do natal o centro promove três almoços convívios com os seus utentes. O primeiro aconteceu na semana passada; o segundo foi esta terça feira e o terceiro realiza-se amanhã. O Almoço é confecionado pelas “alunas” da oficina de culinária, com muitos dos produtos cultivados na horta do centro, que é gerida por dois colaboradores e “onde não há desperdício. Semeamos tudo e o que sobra vai para o banco alimentar”, diz Artur Rita.

Na cozinha e na costura “aprende-se a reciclar e a aproveitar tudo” dizem as frequentadoras das oficinas. Até a fazer presépios em barbante, como o que anima, por estes dias, a montra do espaço solidário que foi todo elaborado à mão por Lúcia de Fátima, frequentadora da oficina de artes e de costura.

Esta quarta feira é a vez do convívio das crianças, com destaque para as que frequentam a oficina de artes circenses (22) que vão ter a sua primeira atuação publica na próxima sexta feira, dia 19, durante a festa da catequese.

“Era bom que todas as paróquias pudessem ter centros como este. Julgo que as comunidades ficariam a ganhar porque há muitos problemas para resolver”, desabafa o Pe Carlos Simas .

“A minha maior dor é que nós estamos aqui a desenvolver este trabalho, devolvendo esperança a estas pessoas que têm tantos problemas de exclusão e depois não conseguimos dar seguimento”, conclui, referindo-se essencialmente aos jovens toxicodependentes que estão em programas de reinserção social.

A ouvidoria dos Fenais de Vera Cruz além do Centro Social e Paroquial da Maia tem neste momento em concretização o Centro Social e Paroquial de São Braz.

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