Rentrée sem saída

Por Renato Moura

Noticia-se que os partidos políticos estão a fazer a rentrée. Costumam aproveitar esta “figura de estilo” para tentar fazer crer aos eleitores, que para o novo “ano político” têm ideias novas, propostas inovadoras eficazes e assim atrair os eleitores. Sim “atrair os eleitores”, pois que uma coisa é atraí-los sem sequer recusar a demagogia, outra diferente é apresentar propostas fundamentadas, realizáveis e úteis ao povo, até desagradáveis se necessárias e inseridas no contexto articulado com objectivos bem definidos.

Verdadeiramente não há “rentrée”, pois que nem no verão os partidos têm o bom senso de nos fazer descansar o juízo e por isso nunca sairam de cena. “Fuzilam” sem cessar em todas as direcções!

Dir-me-ão porventura que foi sempre assim e todos fazem o mesmo. Mas nunca se foi tão longe. E aliás um erro, por mais repetido que seja, não passa a virtude. Na verdade parece que, cada vez mais, em termos gerais, todos fazem o mesmo. Infelizmente agrava-se a tendência de a oposição criticar, esmagar, reduzir a cinza, toda e qualquer medida governamental. Quando se está no governo há linhas políticas boas, que quando se passa à oposição se apelidam de horríveis! E há por vezes governos que viram oposição das oposições! Também isso tudo contribui para o descrédito da política.

Se atentarmos bem, a maioria das posições públicas que os partidos assumem não resultam da concretização dos seus programas ou da satisfação de justas exigências recolhidas no contacto com os eleitores. Se analisarmos melhor, percebemos que nascem das notícias e opiniões mais relevantes da comunicação social. Se ouvirmos a rádio, olharmos a TV e lermos as primeiras páginas dos principais jornais, horas depois descobrimos donde veio a inspiração para as agendas políticas partidárias. Como parecem pulular os jornalistas que preferem criar notícia em vez de se limitar a noticiar, como a maioria da população não estará preparada para distinguir entre notícia e opinião, poderemos vir a ter uma política conduzida pelos media.

Tudo quanto se escreveu sem prejuízo de reconhecer que nem todos os partidos são iguais, ou pelo menos não são sempre iguais; e que há bons jornalistas que respeitam as regras deontológicas.

A política é um acto humano de discussão e alternativa, de respeito de uns homens pelos outros e por isso não tem de ser um forma de guerra.

Como se quer afinal que os governos promovam a paz entre as pessoas e entre as nações, se os partidos políticos aparecem difundindo guerra sem tréguas?

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