Satas

Por Tomaz Ponce Dentinho

Como grande parte das companhias aéreas públicas a SATA está com problemas económicos e financeiros que resultam naturalmente em dificuldades para os trabalhadores e para os clientes.

Os problemas das companhias públicas estão associados ao fato de a redução dos custos de transporte aéreo, a grande diversidade de aeronaves e o aumento da procura, terem deixado de justificar a concessão pública de monopólios para transporte aéreo, inclusive para as remotas ilhas dos Açores. A prova é que mesmo liberalizando o transporte aéreo para o Corvo certamente apareceriam soluções privadas que ofereceriam melhores preços e melhores condições do que o monopólio público.

A inovação tecnológica e o aumento e refinamento da procura, levam a este fenómeno de desadequação dos monopólios públicos e ainda bem que assim é. Aconteceu com os telefones e toda a gente fala para todo o mundo, aconteceu com as farmácias e os preços dos medicamentos baixaram, e está a acontecer com os táxis, com as escolas, com os hospitais e por aí fora.

O que o Estado pode e deve fazer é evitar que haja monopólios públicos ou privados pois criam injustiças no espaço e a limitam a inovação no tempo. Vejam o que acontece com os açorianos que têm que pagar mais para se deslocar entre ilhas próximas do que para ir a Lisboa ou ao Porto. Vejam o que acontece com a SATA que é incapaz de inovar com sustentabilidade financeira porque se sente protegida pela concessão que ainda tem no transporte entre as ilhas.

O Estado parece mais preocupado em defender os interesses de curto prazo de funcionários e gestores públicos do que o desenvolvimento das pessoas e dos sítios. Os monopólios das grandes superfícies apareceram (e são as maiores riquezas do país) porque os municípios não perceberam que a revolução na mobilidade criada pelo automóvel iria tornar obsoletos os mercados municipais e que as novas tecnologias da informação iriam revolucionar a logística. Os monopólios de empresas imobiliárias transnacionais estão a ser formadas e a levar para fora grande parte da riqueza nacional porque o Estado é incapaz de organizar mercados imobiliários ligados ao registo predial e sistemas financeiros de nível local.

Cada dia que passa a adiar uma decisão evidente é um sorvedor de bens públicos e uma dificuldade acrescida em aproveitar o conhecimento acumulado nas ilhas sobre transporte aéreo. O transporte entre as ilhas tem que ser liberalizado e a SATA tem que passar a empresa de transporte Low Cost. Passado três meses de adaptação à mudança toda a gente ficará mais feliz: os trabalhadores, os clientes e as pessoas e sítios das ilhas.

Definitivamente não se pode dar o poder da decisão a quem tem medo de saber porque não quer decidir, a quem não quer decidir porque tem medo da liberdade de o fazer. Na verdade, quer que tudo fique na mesma à espera de uma qualquer reforma antecipada. Ou, pior ainda, decide gastar dinheiro em soluções de cosmética insustentáveis.

Estou a ser injusto. A liberalização dos transportes aéreos foi decidida recentemente pelo governo regional socialista e pelo governo social democrata e democrata cristão da república e os efeitos foram claros no bem-estar dos residentes, no aumento do emprego e na valorização da propriedade. Mas, agora, há que transformar a SATA numa Low Cost, para fazer voos transatlânticos e recriar nos Açores a histórica vocação logística.

O chorinho da insularidade, para além de ser uma vergonha face ao que acontece no mundo, só agrava a pobreza e o abandono.

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