Organismo da Igreja Católica promoveu encontro sobre “Migrar. Um Direito humano”

Conhecer para melhor agir foi o primeiro grande objetivo do reestruturado Serviço Diocesano da Pastoral da Mobilidade humana que esta sexta-feira deu a conhecer as conclusões de um inquérito levado a cabo junto das 165 paróquias dos Açores sobre o acolhimento e a integração dos migrantes.
As 35 respostas obtidas nas ilhas de São Miguel, São Jorge, Flores, Corvo, Terceira e Pico revelam que muitas paróquias já atuam no terreno com recursos próprios, integrando migrantes de forma espontânea, o que mostra uma forte vontade local de resposta social próxima.
“Há um desejo real de acolher e incluir”, afirmou Ana Silva, destacando exemplos de diversidade cultural em comunidades como Lajedo, em Ponta Delgada, nas ilhas das Flores ou em São Jorge.
Mas, do ponto de vista da ação dos poderes públicos “falta celeridade” nas respostas nomeadamente na obtenção de vistos de residência que impedem depois a realização de contratos de trabalho, acesso a cuidados de saúde ou de educação, o que contribui para a fragilização destes grupos que já são por si só vulneráveis, como salientou a responsável pela Comissão Diocesana das Migrações.
“É muito lento e até difícil o processo de regularização dos documentos para um migrante o que afeta necessariamente a sua integração”, sublinhou a responsável destacando que o “ritmo das exigências da vida destas pessoas não se compadece com o ritmo da resposta institucional”, disse a dirigente.
Paula Andrade, presidente da Delegação dos Açores da Associação de profissionais de Serviço Social, referiu que a habitação e o emprego são os dois maiores problemas que os migrantes enfrentam, a que acrescem as barreiras linguísticas e as dificuldades de equivalência escolar o que constitui um entrave à plena integração.
“O objetivo é que estas pessoas se autonomizem e não fiquem dependentes de apoios” referiu a assistente social.

Nos Açores vivem atualmente cerca de 6200 imigrantes; a maior fatia fala português mas ainda assim há uma “diversidade cultural e religiosa” a que importa atender.
As próprias paróquias que responderam ao inquérito sinalizaram essa questão, identificando a necessidade de maior formação.
Eugénia Costa Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações, com trabalho desenvolvido nesta área, lembrou que a Igreja deve ser sempre uma voz de denúncia das desigualdades e defendeu políticas de acolhimento de migrantes que privilegiem o respeito pela dignidade humana.
Para o padre Duarte Melo, diretor do Serviço Diocesano da pastoral da Mobilidade Humana, é preciso pôr em marcha respostas comunitárias solidárias que combatam o preconceito e a xenofobia que muitas vezes radica na desinformação perpetrada por alguns grupos.
Num momento de tanta polarização e “estando no ADN dos açorianos o fator migratório temos de estimular o sentido comunitário procurando criar comunidades solidárias e atentas que facilitem a integração das pessoas respeitando a diversidade cultural e religiosa”, disse.
O encontro, “Migrar. Um direito humano” reforçou o papel da Igreja como voz profética na luta contra a discriminação e um agente ativo no aconselhamento da definição de políticas públicas inclusivas, fundadas na escuta, no acolhimento e no compromisso comunitário.
Neste encontro participou também o vice-presidente do Conselho Regional dos Açores da Ordem dos Advogados, Hélder Medeiros e ainda Joana Amen, vogal da Direção Regional Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses .
Os Açores sempre foram uma região de forte emigração e hoje, acolhem, centenas de imigrantes que procuram nas ilhas uma nova forma de vida.
Segundo os dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), residem na Região Autónoma dos Açores aproximadamente 6200 cidadãos estrangeiros, de cerca de 100 nacionalidades, distribuídos pelos 19 concelhos, das nove ilhas do arquipélago. O caso mais paradigmático desta multiculturalidade é o da ilha das Flores, pois em pouco mais de 3500 habitantes, a ilha mais ocidental do arquipélago acolhe 27 nacionalidades diferentes.