Silly

Pelo padre Nuno Pacheco de Sousa

Embora não pareça, chegamos ao verão, à época do descanso, do convívio, das celebrações, dos regressos de estudantes e familiares emigrados, da praia, de um maior contato com a natureza, das caminhadas, dos colóquios ao relento, dos churrascos, das coisas que nos fazem a vida mais preenchida. Num dos provérbios latinos diz-se que o mar ensina a rezar. E não é mentira alguma. O mar ajuda-nos a rezar, primeiro por ser imenso, também pela sua frescura, pela sua bonomia nesta altura do ano, pela sua cor profunda e de mistério, pela ausência de sede visual. O mar é um deserto, no entanto, não nos mata à sede, não nos impõe rotas preconcebidas, não nos traz outros ruídos, não. O mar apresenta-se como sendo a total possibilidade de renascimento, de recomeçar, como num batismo. O oceano dá-nos a liberdade tantas vezes ofuscada pelo dia-a-dia galopante que nos consome, que nos fecha em compartimentos cheios de equipamentos, técnicas e horários.

Entretanto, chega o verão, sitiam-se as margens, vêm os de longe, voamos acima dos mares para longe, abraçamos os que, por força da pandemia já não se viam há mais tempo do que é costume, numa epifania própria de quem é filho de um Deus que se mostra, se faz presente e se alegra, rodopiando nos encontros que se dão. É curioso que o próprio Jesus tenha também percorrido as margens dos lagos de então, ora em tempestade, ora em bonança, ora para descanso e deleite, ora para abrir uma nova possibilidade de encontro com outras pessoas que dele tanto necessitavam e esperavam.

O mar ensina-nos a rezar, o descanso possibilita-nos o encontro com Deus fora da lógica da utilidade. O mar permite-nos encontrar entre os passeios na areia, pessoas desaparecidas durante o ano, por uma montanha de afazeres que nos consomem a vida. O mar devolve tudo, ele também nos devolve ao interior aquilo que somos, que precisamos de endireitar, organizar e como que nos lava a alma, purifica-nos para recomeçar por mais uma temporada.

O mar, o verão, o descanso não são ociosidades das quais nos devemos envergonhar, muito pelo contrário, são tudo elementos que nos devem proporcionar o encontro, o toque, a devolução de quem somos e o inaugurar de um novo ponto de partida. É preciso descansar depois do trabalho para realinhar a vida, a direção do batel, e seguir com mais à-vontade para novas viagens e voos.

Bom verão!

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