Tomé é o símbolo de uma Igreja que não esconde as suas fraquezas e que acredita no Amor incondicional de Deus, afirma reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo

O cónego Adriano Borges celebrou esta manhã na Capela onde está a imagem do Senhor Santo Cristo, em Ponta Delgada, numa missa transmitida pela RTP Açores

O reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres presidiu hoje à missa na Capela do Senhor, no Convento da Esperança, para assinalar o 20.º aniversário da instituição do Domingo da Divina Misericórdia, e pediu aos fiéis, que acompanharam a celebração em direto pela RTP Açores, que não desanimem na fé e acreditem na misericórdia de Deus.

“Hoje que estamos confinados ao nosso lar, tal como os apóstolos estavam com medo dos judeus, e era de noite, e a noite é sempre escura, não desanimemos. Embora pareça que a noite que se abate sobre a nossa vida e a nossa liberdade nunca mais acaba, a paz há-de voltar”, disse o cónego Adriano Borges.

O sacerdote lembrou a partir da liturgia deste domingo, que encerra a oitava da Páscoa, que a Igreja celebra o dom da fé, o “primeiro que Jesus deu à Igreja” .

O cónego Adriano Borges apresentou uma reflexão sobre a incredulidade do apóstolo Tomé, perante o anúncio da ressurreição de Jesus, e disse que, neste momento de pandemia, todos têm “medos e dúvidas”, reconhecendo-se “frágeis”, com dúvidas sobre a própria existência de Deus.

“Isto é a nossa condição humana, batizados ou não: somos um conjunto de Tomés com muitas virtudes, mas muitas fragilidades e pecados. Por isso é que, em Tomé e com Tomé, tal como com os restantes apóstolos, a Igreja continua a ser composta por homens e mulheres com muitas qualidades e virtudes, mas muitas imperfeições e fragilidades”, lembrou o sacerdote.

“Não vale a pena simularmos o que não somos; temos que ser verdadeiros e mostrar-nos tal como somos. É isto que celebramos hoje: todos somos Tomés, somos irmãos gémeos de Tomé, dos outros discípulos com as nossas fraquezas, mas Jesus estende-nos sempre as mãos para nos ajudar a levantar das nossas quedas”, disse ainda o responsável pelo maior santuário da diocese de Angra.

“Tal como Tomé, que queria ver como os outros viram, mas não estava lá, tinha saído de casa, também nós hoje muitas vezes duvidamos de Deus e sentimos falta da presença dos que nos são queridos” afirmou o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, sublinhando que “Tomé queria ver como os outros discípulos viram, queria ter essa experiência. Se estivesse ali e tivesse ficado junto dos outros teria visto e por isso, teria acreditado”.

“Hoje que também estamos privados da liberdade valorizamos as coisas de maneira diferente” afirmou ao interpelar: “ quem não tem saudade de um aperto de mão vigoroso, de um abraço carinhoso e sentido, de um beijo”.

Por isso, “mesmo que não saibamos quando esta escuridão acabará, quando vamos poder abrir as portas e voltar a sermos uns para os outros, mesmo quando achamos que estamos a sofrer como numa guerra, confiemos que Jesus entra em nossa casa para nos dizer ´a paz esteja contigo´”.

“Este é o verdadeiro sentido do amor que Deus nos tem. As suas chagas servem para nos curar. Estão à vista e servem para nos lembrar que Deus está sempre connosco, porque o seu amor, a sua misericórdia, é infinita”, disse ainda.

“A misericórdia de Deus não abandona mesmo diante das nossas fragilidades”, concluiu.

Este domingo a Igreja Católica celebra a festa da Divina Misericórdia, uma festa inscrita no calendário da Igreja por São João Paulo II, em 2000, ano em que canonizou Santa Faustina Kowalska.

A base desta devoção vem de revelações privadas a Santa Faustina, religiosa polaca que recebeu as mensagens de Jesus sobre sua Divina Misericórdia no povoado de Plock, na Polônia.

A Divina Misericórdia é vinculada de modo especial ao Evangelho do segundo Domingo da Páscoa, representada no momento em que Jesus aparece aos discípulos no Cenáculo, após a ressurreição, e lhes dá o poder de perdoar os pecados.

Os cinquenta dias entre o Domingo da Ressurreição e o Domingo de Pentecostes devem ser celebrados com alegria e júbilo, como se se tratasse de um só e único dia festivo, como um grande Domingo, segundo as Normas Universais do Ano Litúrgico. Este Tempo Pascal começou na Vigília Pascal, com a Ressurreição de Cristo, e é celebrado durante sete semanas, até a vinda do Espírito Santo no Domingo de Pentecostes.

Esse tempo litúrgico, de imensa força e significado, é uma profunda celebração da Páscoa de Cristo, que passa da morte à vida.

O Tempo Pascal é também a Páscoa da Igreja, Corpo de Cristo, que passa para a Vida Nova do Senhor e no Senhor. É um tempo que prolonga a alegria inigualável da Ressurreição e aguarda, ao final destes cinquenta dias, o dom do Espírito Santo na festa de Pentecostes.

Trata-se do domingo que encerra a oitava da Páscoa, ou seja, é o segundo domingo do Tempo Pascal, sendo que o primeiro foi o próprio Domingo da Páscoa, a grande solenidade da Ressurreição de Cristo.

A celebração da Divina Misericórdia é enriquecida com a possibilidade de indulgência plenária:

“Para fazer com que os fiéis vivam com piedade intensa esta celebração, o mesmo Sumo Pontífice (João Paulo II) estabeleceu que o citado Domingo seja enriquecido com a Indulgência Plenária”, “para que os fiéis possam receber mais amplamente o dom do conforto do Espírito Santo e desta forma alimentar uma caridade crescente para com Deus e o próximo e, obtendo eles mesmos o perdão de Deus, sejam por sua vez induzidos a perdoar imediatamente aos irmãos” (Decreto da Penitenciaria Apostólica de 2002).

 

 

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