Trump testa os limites

Por Renato Moura

Contrariando o que a esmagadora maioria vaticinava, Trump foi eleito Presidente dos EUA. Feitas que estão as análises do como e porquê, pensava-se que muitas das promessas eram só campanha eleitoral. Só que já se cumprem as más promessas.

Apoiado numa legitimidade eleitoral, não obstante níveis de rejeição já altos, sem preocupação de reconciliar e unir os americanos e só satisfazendo os desejos de alguns dos seus, Trump decreta regras que não são de nação civilizada, estigmatiza os muçulmanos em geral e discrimina pessoas pela sua nacionalidade ou religião. Pratica um populismo agressivo e põe em causa a liberdade e os direitos das minorias, defende um nacionalismo autoritário e aponta para o isolacionismo colocando os EUA contra o resto do mundo, parece fazer a ponte com a Rússia e constrói o muro com o México, dá sinais de hostilizar a NATO, de nutrir sentimentos de desintegração da Europa, de desvalorizar aliados tradicionais.

Um Trump contra a imigração que construiu a grande nação, ele que também tem as suas origens em imigrantes, exibe intolerância e xenofobia e dá força aos extremistas, subverte tudo e ao arrepio de ancestrais princípios e valores consagrados, lança fogo sobre a comunicação social livre, considera a tortura método eficaz e por isso aceitável e válido; vincando que quem não é por ele é contra ele, faz rolar cabeças e nomeia quem lhe obedeça sem limites.

As atitudes presidenciais são preocupantes, pois que além do fundo, é horripilante a forma como as toma, evidentes desde a tomada de posse. Alardeia as suas decisões, de forma primária e sem pisca de humildade, fazendo-se rodear de um séquito a quem também ordena que transportem a “arma para a assinatura” e exibe cada “peça” como se se tratasse de troféus de caça! Ostenta-se acima da lei de forma provocatória e agressiva, rompe com as tradições do próprio Partido Republicano como por castigo de não o terem tomado a sério, desafia as instituições americanas e mundiais, abre caminho a uma guerra de religiões, parece disposto a fazer das suas imponderadas práticas uma ideologia!

Incerteza instalada, futuro inimaginável. Os demais poderes mundiais, dentro dos EUA e fora, têm de acautelar o futuro. É evidente que este homem está a testar os limites de até onde pode ir. Também a Europa, ainda que apanhada numa situação de fragilidade, não pode ficar muda e resignada e ao contrário de pactuar, deve responder, reabilitar a política, voltar-se para a reconstrução do seu próprio projecto e restaurar a esperança.

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