Um em cada três açorianos é pobre, diz sociólogo

A pobreza vista à luz da Doutrina Social da Igreja é o tema da grande entrevista do programa da Rádio Igreja Açores deste domingo

Um em cada três açorianos é pobre. A estatística resulta de um estudo feito por Fernando Diogo professor da Universidade dos Açores.

“É um fenómeno muito preocupante que está associado à forma como a sociedade açoriana está organizada social e economicamente” diz o sociólogo que aponta razões históricas, níveis de escolaridade muito baixos, uma esperança média de vida ao nascer mais baixa que nas restantes regiões do país, um mercado de trabalho precário e com má qualidade e a questões sociais, como causas estruturais da pobreza insular. E, embora reconheça que “tudo está em grandes mudanças” a verdade é que ainda não foram suficientes para alterar esta realidade “preocupante”. Acresce, ainda, a sua distribuição pelas ilhas que é muito “diferente”.

“Centra-se em grande parte em São Miguel; também se verifica na Terceira e há ainda outras ilhas onde a pobreza é acentuada” embora o “caso mais preocupante” seja, efetivamente, São Miguel.

“O número de pobres em São Miguel está muito acima do número total de micaelenses entre os açorianos” refere numa entrevista ao Igreja Açores, na sequência do III Dia Mundial dos Pobres, assinalado pelo Papa Francisco e no contexto de uma análise social e cultural das ilhas proposta no itinerário de reflexão apresentado pela equipa de coordenação da Caminhada Sinodal na diocese de Angra.

“São Miguel tem mais ou menos metade da população açoriana e é nesta ilha que se concentram dois terços dos pobres dos Açores” esclarece citando dados cruzados entre aquele que é o rendimento disponível, a ação social escolar, o rendimento de Inserção social, entre outros aspetos.

Numa entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores que pode ouvir aqui percorre as questões da pobreza na região e no mundo para concluir que há sistemas económicos que podem ter virtudes mas quando aplicados à política, sem regras, podem não proporcionar as melhores opções e dá como exemplo o capitalismo, um dos sistemas mais “revolucionários”: “é um sistema económico que pode fazer desenvolver a economia mas quando aplicado à política não é o melhor para proteger as pessoas nem para organizar outras esferas da vida das pessoas para além da economia”, refere ao sublinhar que todos os sistemas têm virtudes mas têm que ser acompanhados.

“Os sistemas servem para serem colocados ao serviço da humanidade” e “não o contrário” diz ainda afirmando que, no caso específico do capitalismo, “tem de haver uma trela” sob pena do sistema “se transformar num monstro”, isto é, naquela “economia que mata” e de que fala o Papa Francisco.

Nesta entrevista o sociólogo fala ainda de algum adormecimento das elites açorianas nestas questões e exemplifica com os transportes que se transformaram numa espécie de “obcessão” que depois “faz esquecer tudo o resto”.

O problema da escolaridade dos açorianos é uma dessas questões esquecidas, ainda.

“O maior desafio ao desenvolvimento da região não é sequer a questão da pobreza mas a da educação”. O nível de escolaridade dos pobres açorianos é muito baixo, tal como é baixa a média de escolaridade dos açorianos em geral.

“Seria bom pensar o desenvolvimento dos Açores afastado da construção da marina ou da rotunda. Os Açores têm as infraestruturas que precisam de ter. O desenvolvimento são as pessoas concretas não são as infraestruturas e infelizmente essa mentalidade ainda não está nas elites que decidem as opções desta terra”.

A entrevista que foi para o ar este domingo na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, pode ser ouvida no Sítio Igreja Açores a partir desta tarde em www.igrejaacores.pt

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