“Uma Igreja diocesana que não assente na «igreja doméstica» é sempre uma “igreja artificial” diz cónego Gregório Rocha

Sacerdote fala sobre os desafios da pastoral familiar na véspera do arranque do Ano da Família Amoris Laetitia

O grande desafio que o novo ano da família Amoris Laetitia, que arranca a 19 de março de 2021, vem trazer à Igreja é fazer com que o Evangelho chegue às famílias, afirmou ao Igreja Açores o cónego Gregório Rocha.

Na entrevista que vai para o ar este domingo, depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, o conselheiro da Equipa Açores Centro do Movimento das Equipas de Nossa Senhora, lembra que “para haver religião, para haver cristandade temos que conhecer o Evangelho e eu temo que, às vezes,  andemos a construir casas pelo tecto esquecendo-nos dos alicerces”, afirma sublinhando o papel da família na sociedade e na Igreja.

“Se na Igreja não partirmos da família corremos o risco de estarmos a construir uma vivência cristã desencarnada” afirma o cónego Gregório Rocha ao destacar que o essencial é que a família “conheça e viva” de acordo com a Palavra de Deus.

“Julgo que temos de nos interrogar se queremos uma cristandade à volta dos sacramentos, que são importantes, mas mais importante é percebermos onde fica o Evangelho de Jesus Cristo”, interpela.

“É para esta reflexão que o Papa nos encaminha ao propor este ano da Família Amoris Laetitia”, diz ainda.

“A família tem ainda de conhecer a sua faceta como Igreja doméstica” avança ainda lembrando que “a maior parte das nossas famílias não sabe bem o que é esta noção de Igreja doméstica e a culpa é nossa, que não soubemos criar esta consciência”.

“Uma Igreja diocesana que não assente na igreja doméstica é sempre uma igreja artificial; temos de saber, e conseguir, levar o evangelho  à família porque traz conforto e ensina-nos a vivermos felizes nesta passagem na terra”.

“Os elementos da pastoral familiar têm que se sentir protagonistas de uma ação que não é sua mas de Jesus cristo, levando os outros a sentirem a beleza da vivência em Jesus Cristo” afirma reconhecendo que, apesar insuficiente a acção dos casais envolvidos nos diferentes movimentos de apostolado ligados à família como o Curso de Preparação para o Matrimónio ou as Equipas de Nossa Senhora “dão testemunho dessa alegria”.

“Os casais que vão preenchendo esses movimentos têm consciência de que podem ser fermento no meio da massa e se a pastoral familiar conseguir que estes casais sejam formados para serem este tal fermento são eles que vão chegar às tais famílias”, afirma.

“A pastoral familiar faz-se a partir das próprias famílias, que têm de ir ao encontro de outras famílias, sobretudo das que estão em maior sofrimento”, diz ainda na entrevista ao programa de rádio Igreja Açores.

“Temos de sair muito mais dos templos e ir ao encontro das pessoas,  onde elas estão. Às vezes fico com a impressão de que a Igreja ainda está sentada à espera que venham escutá-la. Não é isso que o Evangelho pede,  nem é isso que o papa nos pede”, refere. “Ambos nos pedem que saiamos e nós, nem sempre, temos conseguido sair e ir ao encontro numa perspetiva de acolhimento,” numa atitude de “compaixão para servirmos a família” e não ter sobre ela uma “atitude moralista”, esclarece ainda o sacerdote.

Sobre o momento em que acontece este ano da Família Amoris Laetitia, o sacerdote que é professor no Seminário Episcopal, e diretor espiritual na instituição, lembra que a pandemia “obrigou a família a conhecer-se melhor, aproximando pais de filhos e os próprios casais”, sobretudo “permitindo que a família tenha mais tempo para si” embora, reconheça, que não tenha sido assim em todas as famílias.

Nesta entrevista, o cónego Gregório Rocha fala ainda da comunhão dos recasados e da atitude pastoral da Igreja neste tema que é um dos fraturantes no que respeita à família cristã.

“A comunhão com Jesus Cristo não se esgota na comunhão sacramental; é preciso redescobrir este aspecto pois há muitas formas de comunhão com Cristo”,  afirma ao sublinhar que “a comunhão é uma ligação a Cristo e ao seu projecto e pode ter outras expressões”.

“O caminho de discernimento deve ser uma constante” acrescenta.

“Não sei o que Nosso Senhor pensa disto tudo” salienta em jeito de interpelação.

“O que sei, como nos lembra o papa Francisco é que a comunhão sacramental não é um prémio para os bonzinhos; é para os caminhantes e, sobre isto, considero que a comunhão aos recasados implica sempre um caminho quer para a Igreja quer para os casais”, conclui.

A entrevista ao cónego Gregório Rocha é conduzida por Tatiana Ourique no programa Igreja Açores que vai para o ar este domingo, a partir do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

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