Serreta prepara-se para o “maior” fim de semana do ano

Santuário de Nossa Senhora dos Milagres recebe peregrinos de todos os cantos da ilha

Milhares de peregrinos de toda a ilha Terceira, nos Açores, chegam esta sexta feira ao Santuário da Serreta, onde decorrem, entre os dias 12 e 19 deste mês, as festas de Nossa Senhora dos Milagres.

Uma das peregrinações que marcam sempre esta festa é a organizada pelo Movimento dos Cursilhos de Cristandade (MCC) que parte de Angra ao final da tarde de sexta feira, com dois grupos- um da Agualva que peregrina pelo norte da ilha Terceira e outro de São Carlos, que fará o percurso pelo sul da ilha- que se juntarão no Santuário para a celebração de uma eucaristia  meia noite e meia. De resto, esta peregrinação marca o arranque do ano pastoral do MCC.

O novenário de preparação para a festa que se realizou até ontem, com pregações de diferentes sacerdotes, animado por grupos e movimentos eclesiais distintos, esteve centrado já no Ano Santo da Misericórdia “procurando que Aquela que é invocada diariamente como Mãe de Misericórdia nos inspire e ensine a sermos misericordiosos”, refere o Reitor do Santuário e pároco da Serreta, Pe Manuel Carlos, em entrevista ao Sítio Igreja Açores.

“Desde 2005 que o Conselho Pastoral Paroquial optou por direcionar o novenário de preparação como momento propício de evangelização que visa alguns segmentos populacionais como a família, idosos, doentes, juventude, catequistas”, entre outros, adianta o sacerdote.

O ponto alto da festa é, contudo, o fim de semana de 12 e 13 de setembro, altura em que cresce o número de visitas ao Santuário. No dia 13 haverá missa solene, pelas 16h00, seguida de procissão, ambas presididas pelo Vigário Geral da Diocese de Angra, Cónego Hélder Fonseca Mendes. Na segunda feira, dia 14, terá lugar o Bodo de Leite (com o tradicional pic nic das famílias e tourada à corda) e no dia seguinte realiza-se a procissão em honra de Santo António, que encerrará as festas deste ano.

Estas festas são as mais importantes da ouvidoria da ilha Terceira e remontam ao século XVII.

O historiador terceirense Ferreira Drumond, baseado numa tradição oral, refere que a ida da imagem de Nossa Senhora dos Milagres para a Serreta se deve a um sacerdote de nome Isidro Machado que se refugiou neste extremo ocidental da ilha e construiu uma pequena ermida colocando lá a imagem de Nossa Senhora com o Menino ao colo. Por morte do padre, a imagem foi recolhida na igreja paroquial de então, a Igreja das Doze Ribeiras.

A devoção popular pela Nossa Senhora dos Milagres está ligada “a fases cruciais da nossa história” refere o Pe Manuel Carlos lembrando por exemplo o século XVIII, quando Portugal se viu envolvido na guerra entre a França e a Espanha contra Inglaterra.

Encontrando-se a ilha Terceira “desprovida de fortificações e pouco defensável”, as autoridades militares e civis ao depararem com a imagem de Nossa Senhora dos Milagres, na Igreja das Doze Ribeiras, formularam um voto de se “tornarem seus escravos e promoverem-lhe festa anual se a ilha não sofresse qualquer investida inimiga. E porque assim sucedeu se firmou o voto, subscrito pelos principais cavalheiros militares e eclesiásticos, autoridades e algumas damas de fé”.

A primeira festa foi celebrada a 11 de setembro de 1764, altura da fundação da Irmandade dos Escravos de Nossa Senhora, mas a sua realização não foi continua. Só a partir de 1842, altura em que foi construída a igreja paroquial da Serreta e elevada a paróquia 20 anos depois, a Festa foi ganhando novos contornos atraindo muitos angrenses. Desde então a festa realiza-se todos os anos.

“Qualquer pessoa em algum momento da sua vida precisa de um milagre, porque assumiu que as suas próprias forças são escassas para vencer os desafios que se lhe deparam”, sublinha o Reitor do Santuário, um dos dois Santuários diocesanos da ilha, ambos marianos.

“No começo da devoção procurou-se proteção divina contra a guerra; hoje razões de saúde, crises familiares, desemprego, etc, são motivos que fazem com que milhares de terceirenses venham a pé ao Santuário da Serreta pedir e agradecer o auxílio da Mãe de Deus e nossa Mãe”, acrescenta.

“Há que reconhecer também que estamos perante um processo de socialização muito bem sucedido: desde pequenas que as crianças são expostas a esta devoção e ao crescerem, dão-lhe continuidade. E isso faz muita diferença”, conclui o sacerdote.

Em apenas três dias chegam ao santuário cerca de oito mil peregrinos, fora os que anualmente visitam este templo, elevado há nove anos, ao estatuto de Santuário Diocesano, por D. António de Sousa Braga.

“O nosso primeiro desafio é acolher e escutar os peregrinos; depois evangelizar e disponibilizar os sacramentos confiados por Cristo à Igreja aos que os procuram” refere ainda o Pe Manuel Carlos, que diz “trabalhar por uma igreja peregrinam, contemplativa do homem concreto, que procure encarnar e levar o Evangelho de Jesus à humanidade deste tempo”.

“Necessitamos de assumir que não basta à Igreja apontar metas; o fundamental é saber e ensinar a lá chegar”, conclui o sacerdote, destacando o papel deste Santuário no contexto diocesano.

Esta festa está também associada a outra de cariz mais popular conhecida como a Segunda Feira da Serreta, que atrai centenas de famílias para um pic nic. À semelhança de outros anos, o Governo Regional dos Açores concede tolerância de ponto aos funcionários da Administração Pública Regional, cujos serviços estão sediados na Terceira, por ocasião da tradicional festa da Segunda-feira da Serreta.

O despacho assinado por Vasco Cordeiro salienta “a importância de que o evento se reveste para a população da ilha Terceira e que se traduz numa grande adesão e participação nas manifestações que se realizam naquela data”.

 

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