Cerca de 5% dos sem-abrigo de Lisboa têm um curso superior

Santa Casa da Misericórdia traça perfil dos sem abrigo da capital e descobre pessoas a viver nas ruas há mais de vinte anos, com filhos, diplomas universitários. Há 852 pessoas nesta situação e a maior parte é sem-abrigo há menos de um ano.

São homens, em idade ativa, com filhos, solteiros e portugueses. É este o perfil dos sem-abrigo de Lisboa, de acordo com o levantamento feito pela Santa Casa da Misericórdia e revelado esta quarta-feira pelo Jornal Público.

 

Numa contagem feita na noite de 12 de Dezembro , que envolveu centenas de voluntários, contabilizaram-se 852 sem-abrigo em Lisboa, dos quais 509 vivem nas ruas e 343 passam as noites em Centros de Acolhimento.

 

Os inquéritos foram realizados ao longo de vários meses em que as equipas do programa InterSituações da SCML contactaram 649 sem-abrigo e conseguiram obter 454 respostas.

 

A grande maioria é homem (87%) e tem entre 35 e 54 anos (48%). Em segundo lugar, o escalão etário mais representativo é o dos 55-64 anos (20%). A pessoa inquirida mais nova tem 16 anos e a mais velha tem 85 anos.

 

Mais de metade (54,2%) diz ter filhos, com os quais 36,2% não mantém qualquer contacto. Apenas 13,8% dizem ter um contacto quase diário com os filhos mas, no total, a maioria (66,8%) diz interagir frequentemente com outros membros da família. A SCML sublinha que este pode ser “o meio para combater a situação de rutura em que [os sem-abrigo] se encontram”.

 

Na sua maioria são solteiros (44,5%) e têm nacionalidade portuguesa (58,4%). Há 65 pessoas nacionais de outros países da União Europeia. O estudo afirma que “entre os estrangeiros, alguns desejam apenas um bilhete que lhes permita regressar à terra natal”.

 

Quase um terço (30,6%) está na rua há menos de um ano, 17% estão nesta situação num período entre um e três anos e 15% entre três e seis anos. Há 23 pessoas que estão nas ruas há mais de vinte anos e foi encontrada uma pessoa nesta situação há já 40 anos.

 

Tirando aqueles traços principais, a população de sem-abrigo da capital é bastante heterogénea. Um terço concluiu o ensino secundário, técnico ou superior, enquanto 20 (4,6%) dos sem-abrigo possuem um diploma universitário e 7,7% não sabem ler nem escrever.

 

A grande maioria (71,8%) não tem qualquer fonte de rendimento e 68,9% recebe apoio alimentar.

 

A Santa Casa aconselha os organismos públicos e privados a “concertar estratégias para mudar o paradigma de intervenção junto dos sem-abrigo, evoluindo da assistência para a reintegração social”. Esta tarde, a SCML vai revelar as estratégias para combater a exclusão face a estes dados, que nesta fase apenas se vão dirigir a Lisboa.

 

Nos Açores existem 116 sem abrigo sinalizados pelas autoridades regionais. A maioria concentra-se em Ponta Delgada onde o executivo regional vai construir uma nova casa de acolhimento, numa parceria com a Cáritas de São Miguel e a Associação Novo Dia.

 

O Observatório Social criado pelo Serviço Diocesano de Apoio à Pastoral Social e Mobilidade humana vai proceder a um levantamento destes casos e das respostas que existem ao nível das instituições de apoio e luta contra a pobreza e a exclusão social.

 

“A nossa preocupação é garantir uma boa articulação do trabalho desenvolvido pelas diferentes instâncias, sejam públicas sejam provadas, de forma a darmos uma resposta mais adequada a este problema”, disse ao Portal da Diocese o responsável pela Pastoral Social na Diocese de Angra, Pe Cipriano Pacheco.

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