Papa e Al Sistani já se encontraram em Najaf

Encontro histórico pode ter um profundo significado político na construção do diálogo inter-religioso

O Papa Francisco encontrou-se este sábado com o principal líder religioso xiita, o aiatolah Ali al-Sistani, em Najaf, no Iraque, um gesto considerado histórico nas relações entre o Vaticano e o Islão, sem a presença da imprensa.

Francisco foi visto entrando na modesta casa de Al Sistani, em um dos bairros humildes de Najaf, cercado por forças de segurança. Foi o primeiro ato do dia do Papa, que na sexta-feira chegou ao Iraque para uma visita de três dias, tornando-se o primeiro papa a visitar este país. Como alguns especialistas apontaram há alguns dias, Francisco teve que respeitar o protocolo e tirar os sapatos antes de entrar no quarto de al-Sistani.

O gabinete de Al-Sistani divulgou posteriormente fotos do encontro entre os dois líderes religiosos, que ocorreu sem a presença da imprensa, em que Francisco, vestido de branco, e Al-Sistani, de preto, são vistos em dois sofás da modesta casa do líder xiita.

No encontro, o aiatola iraquiano Ali al-Sistani expressou ao Papa a sua “preocupação de que os cidadãos cristãos vivam, como todos os iraquianos, em segurança e paz, e com todos os seus direitos constitucionais”, de acordo com um comunicado do gabinete de Al Sistani.

Al-Sistani enfatizou o papel que a autoridade religiosa tem desempenhado em “proteger todos aqueles que sofreram injustiças e danos nos últimos anos, especialmente durante os quais terroristas tomaram grandes áreas em várias províncias iraquianas, onde cometeram atos criminosos”. O líder xiita fez alusão ao período, entre 2014 e 2017, em que o grupo sunita ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI) ocupou grande parte do Iraque e estava prestes a chegar à capital Bagdade.

Durante este encontro, segundo o comunicado, abordaram “os grandes desafios que a humanidade enfrenta neste momento e o papel da fé” e fizeram referência específica às “injustiças, assédios económicos e deslocamentos sofridos por muitos povos” da região, “especialmente o povo palestiniano nos territórios ocupados” por Israel.

Finalmente, Al-Sistani enfatizou o “papel que os grandes líderes religiosos e espirituais devem desempenhar para conter todas essas tragédias”.

Durante este encontro não houve um documento comum como o assinado em Abu Dhabi, há dois anos, pelo Papa e pelo xeque egípcio Ahmad al-Tayyeb, Grande Imã de Al-Azhar, a maior instituição sunita, no Cairo, e que foi um dos principais passos nas relações entre o Islão e o catolicismo.

O aiatola é uma das figuras mais poderosas do Islão e os seus decretos religiosos (fatwa) levaram muitos muçulmanos a mobilizarem-se em 2014 contra o Estado Islâmico, com a criação da Forças de Mobilização Popular, em janeiro de 2019.

Este é o primeiro ato do dia do Papa, que esta sexta-feira chegou ao Iraque para uma visita de quatro dias e se tornou o primeiro Papa a visitar o Iraque. Francisco viajou para esta cidade sagrada, ao sul de Bagdade, o principal centro religioso deste ramo do Islão e um destino de peregrinação para xiitas de todo o mundo.

A agenda papal inclui encontros com a comunidade católica, composta por 590 mil pessoas, cerca de 1,5% da população iraquiana, além de cristãos de outras Igrejas e confissões religiosas e líderes políticos. O Papa vai passar por Bagdade, Najaf, Ur, Erbil, capital do Curdistão iraquiano, Mossul e Qaraqosh.

(Com Lusa)

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