Poder imperial indisfarçável!

Por Renato Moura

Foi institucionalmente escolhido o dia 23 de Março para iniciar o programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Justificou-se em agora se atingirem mais dias de democracia, que os da ditadura.

Estão assim anunciados mais de dois anos de celebrações ou de festejos, ou do que se os quiser e souber preencher. Haverá certamente muitas alegrias para rememorar, bastantes e excelentes realizações para relembrar, tantos caminhos para prosseguir. Quem for consciente e honesto terá de reconhecer erros cometidos, opções erradas, realizações imperfeitas, objectivos prometidos e nunca realizados. Mas como alguém lembrava por estes dias – e muito bem –, antes os erros da democracia do que as virtudes da ditadura.

Ao contrário, é perfeitamente injustificável que se tenha escolhido esse mesmo dia para anunciar a estrutura e nomes dos ministros do próximo Governo. A comemoração, supostamente nacional, acabou submersa pela celebração socialista do espavento de um governo, por António Costa dito de combate. Melhor dizendo: arreigadamente socialista.

A maioria absoluta é o poder para o Primeiro-ministro exercer fora e também dentro. Já nem há ministros de estado! Haverá uma Mariana Vieira da Silva, com o aparato de número dois do Governo, prémio da persistente fidelidade. Para alguns é “superministra”, por ficar com a coordenação política do PRR e outros fundos europeus, e com a Administração Pública; só que, como Ministra da Presidência, fica em plena comunhão com António Costa. Tal como a Ministra dos Assuntos Parlamentares, que fica de Adjunta. O corpo do Governo ficou mais magro, mas a cabeça empolou-se!

Dentro do Governo passarão a estar “amarrados” todos os delfins e potenciais barões à disputa do lugar de Secretário-Geral do PS, como Fernando Medina, Ana Catarina Mendes e Pedro Nuno Santos. E ainda José Luís Carneiro e Duarte Cordeiro. Governo recheado da sagaz cúpula do aparelho socialista!

Diálogo?

Sem acabar o dia, António Costa foi reunir (alegadamente) com o novo Grupo Parlamentar do PS. Minutos depois já estava publicamente anunciado que fora indicado ao Grupo quem António Costa queria para novo Presidente da Assembleia da República e para Presidente do Grupo Parlamentar do PS. Aos 120 deputados do PS, fazendo de conta que escolheram, resta votar obedientemente! É o Governo a fiscalizar-se!

Vi um chefe partidário e de governo com idênticos desejos imperiais; todavia nesse tempo o chefe ainda tentava disfarçar. Honro-me de com outros ter ajudado a lhe saírem «tiros pela culatra»!

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