Comissão Justiça e Paz denuncia aumento “sem precedentes” das despesas militares e rejeita lógica da dissuasão pela força

O documento, intitulado Se queres a paz, prepara a paz”, parte da mensagem do Papa Leão XIV para o 59.º Dia Mundial da Paz, considerando-a de “particular relevância” para o contexto atual, em Portugal e no mundo

Foto: Lusa

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) alertou hoje para o aumento “sem precedentes” das despesas militares em Portugal e na União Europeia, criticando a lógica da dissuasão pela força e defendendo uma mudança de paradigma na abordagem à segurança internacional.

Em nota enviada aos órgãos de comunicação social o organismo da Igreja Católica afirma que a União Europeia, criada como resposta a um passado marcado por conflitos armados, parece agora preparar-se para a “inevitabilidade da guerra”.

“Um incremento sem precedentes está previsto para o nosso país e para os outros membros da União Europeia. Esta união de Estados, nascida como alternativa a um passado de guerras contínuas, parece preparar-se para a inevitabilidade da guerra”, refere o comunicado.

O documento, intitulado Se queres a paz, prepara a paz”, parte da mensagem do Papa Leão XIV para o 59.º Dia Mundial da Paz, que se assinala a 1 de janeiro, considerando-a de “particular relevância” para o contexto atual, em Portugal e no mundo.

A CNJP rejeita que uma paz autêntica possa assentar na desconfiança ou no chamado “equilíbrio do terror”, sublinhando que a corrida aos armamentos gera instabilidade e desvia recursos essenciais ao desenvolvimento social.

“Esse equilíbrio é sempre precário e instável; envolve sempre o perigo de passar da ameaça ao uso efetivo”, adverte o texto, acrescentando que a escalada armamentista tende a ser interminável, uma vez que “à ameaça se responde com outra ameaça maior”.

O organismo católico sublinha ainda que a dissuasão militar, em particular a nuclear, traduz a “irracionalidade” de relações internacionais baseadas no medo, defendendo como alternativa o reforço do direito internacional e da cooperação entre Estados.

“Há alternativas que servem para construir essa paz autêntica, que certamente também não assenta na rendição perante a injustiça”, indica o documento.

A CNJP denuncia também políticas educativas e mediáticas que reforçam a perceção da “inevitabilidade das guerras”, em detrimento de uma cultura da memória que preserve a consciência histórica do século XX e recorde os milhões de vítimas dos conflitos armados.

“Promovem-se campanhas que difundem a perceção de que se vive continuamente sob ameaça e transmitem uma noção de defesa e segurança meramente armada”, lamenta a comissão.

Em sintonia com o Papa Leão XIV, o organismo condena ainda a polarização social e a instrumentalização da religião para fins políticos ou violentos, apelando aos fiéis para que rejeitem estas “formas de blasfémia”.

“O desarmamento que propõe esta mensagem é, antes de tudo, o ‘do coração, da mente e da vida’”, sublinha a CNJP.

O documento termina com um apelo à substituição da lógica do confronto por uma construção ativa da concórdia, defendendo um novo lema: “O velho adágio ‘se queres a paz, prepara a guerra’ deve ser substituído por este outro: ‘se queres a paz, prepara a paz’”.

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Leão XIV apela aos governantes de todo o mundo a retomarem o “caminho desarmante da diplomacia” e a fortalecerem as instituições supranacionais, alertando para a “irracionalidade” de uma segurança global baseada no medo e na força, bem como para os riscos associados ao uso de novas tecnologias nos conflitos armados.

O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 pelo Papa São Paulo VI e é celebrado anualmente no primeiro dia do ano.

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