A crise e a abundância

Por Renato Moura.

Neste período de Verão temos visto pessoas não serem atendidas nos restaurantes, com o argumento de que já passa (às vezes uns minutos!) das 21 ou das 14 horas. Temos sabido de restaurantes da mesma zona a encerrar, para descanso semanal, no mesmo dia da semana, quase deixando, sem alternativa viável, muita da gente que nesta altura visita as ilhas. Felizmente também há excepções.

Durante o Inverno ouvem-se os lamentos dos empresários: há poucos clientes; é preciso manter e pagar os empregados; há que suportar as despesas fixas; o sector está em crise.

No Verão os restaurantes estão a abarrotar, há filas de espera por lugar, as caixas atulhadas de dinheiro, mas há empresários indispostos com a abundância e empregados impertinentes com o trabalho. Uns e outros, geralmente, preferem atender os visitantes: os empresários, por estes aguentarem melhor os preços altos; os empregados fiados em gorjetas mais gordas. Os residentes são os clientes de todo o ano, mas frequentemente esquece-se.

O adágio “quando há vento é que se aventeja”, utilizado nestas paragens (apesar da corruptela), quer significar que devemos ganhar as oportunidades proveitosas proporcionadas em cada ocasião. Assim seria o verdadeiro espírito comercial. Ao contrário das repartições públicas, onde, pelo menos no tempo da ditadura (e talvez ainda hoje em algumas), se escorraçavam os utentes chegados depois da hora.

Lamentam-se os empresários por os empregados não perceberem que é necessário fazer um esforço suplementar nestes períodos de muita clientela. Queixam-se os trabalhadores de os patrões não quererem pagar horas extraordinárias. Na verdade, todos precisariam compreender que não há empregos sem empresários e não há empresas de sucesso sem bons trabalhadores justamente remunerados.

Realmente, quando vejo clientes saírem dum restaurante sem comer, desconsolados com a falta de qualidade ou de variedade, ou insatisfeitos com o serviço, penso que se estão a dar tiros nos pés.

As belezas naturais não consolidam, só por si, o destino. Más impressões deixadas nas agências de viagens, ou junto de amigos, são fatais. Não se esqueça o provérbio “Assim como fizeres, assim acharás”.

Que a fartura nunca faça esquecer a escassez.

Aliás, para se ser simpático no receber e atender, independentemente dos interesses económicos presentes e futuros, bastaria aprender de Jesus o “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” ou sequer a simples norma de boa convivência humana “Nunca faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti”.

Scroll to Top