Festas Paroquiais, tradição e continuidade – O exemplo da Igreja Arrifes

Por Goreti Freitas.

E foi assim… um sucesso!!!

Este ano as festas em honra das Padroeiras da Igreja Arrifes, estão a ser alvo de mudanças.

Tudo começou com a alteração da data da festa em Honra da Senhora da Piedade, que passou do segundo fim de semana de setembro, para o último de julho. Tratou-se de uma mudança, resultado do olhar atento daqueles que são a voz ativa dos paroquianos e que deste modo tentam evitar o termo das tradições da sua comunidade. Era a última de três festas paroquiais, no espaço de um mês, na freguesia de Arrifes. A sobrecarga de trabalho para quem organiza as festas, a sobreposição de eventos das diferentes festas pela proximidade das mesmas, a falta de disponibilidade e interesse dos paroquianos para nelas participarem em fins de semana consecutivos, a realização da festa já em período escolar, foram aspetos analisados e considerados para a decisão desta alteração.

No caso específico da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde, algumas das mudanças são também o resultado da perspicácia de quem vislumbra um crescimento da comunidade cristã, um aumento da prática religiosa e por isso ajusta as festas à realidade atual, outras, por força das condições meteorológicas que impossibilitaram a realização da tradicional Procissão do Santíssimo Sacramento, que este ano, atendendo à comemoração dos 110 anos da Imagem de Nossa Senhora da Saúde, decidiu-se que seria a Veneranda Imagem a percorrer as ruas e a visitar a sua comunidade, num percurso diferente do habitual.

Paulatinamente, em ambas as situações, atendeu-se também aos resultados dos questionários aplicados pela Igreja Arrifes no Verão de 2018, em que se questionou a população sobre as mudanças que gostariam de ver realizadas na comunidade e vários paroquianos referiram a redução e/ou alteração dos percursos das procissões e a alteração das datas para distanciamento das mesmas.

Numa base sólida e com um espírito ousado, arriscado e quiçá revolucionário, mas sempre com um objetivo bem definido, o melhor para a comunidade, uma maior participação, a manutenção das tradições e o aumento da fé, eis que o Pe. Davide Barcelos, com o apoio e aprovação do Conselho Pastoral da Igreja Arrifes, decide pelas referidas alterações.

Muitas foram as críticas pessoais, nas redes sociais, etc… mas, sem qualquer receio e medo, o que estava decidido era para implementar.

Para tristeza de alguns, para conforto de muitos, ambas as festas foram um sucesso.

Os já habituais tríduos, mais participados do que nos anos anteriores em ambas.

A procissão em honra da Senhora da Piedade, foi também bastante participada. A Senhora saiu acompanhada pelos seus venerandos, percorreu 6,320 km, durante cerca de 3 horas. Este ano, realçou-se a beleza dos tapetes e das casas, quer pelas colchas e flores a ornamentar, quer pelo aglomerado de famílias e amigos que acompanharam os paroquianos enquanto a Senhora os visitava. Viveu-se um verdadeiro sentido de festa.

Por sua vez, no caso da Senhora da Saúde, aproximava-se a hora da Veneranda Imagem sair, a chuva cada vez mais intensa, as condições meteorológicas desfavoráveis, levaram a que o Pároco da Igreja Arrifes rapidamente arranjasse uma alternativa, o Terço Solenizado.

As novas tecnologias facilitaram a divulgação em massa, os movimentos religiosos intervenientes foram contactados e do inesperado e imprevisto, surgiu um grande momento de oração. Um terço rezado, participado, animado, seguido de um momento de pregação e por fim com a bênção do Santíssimo Sacramento. Para os muitos paroquianos que participaram foi, sem dúvida, um momento sublime, inédito, de grande profundidade e de proximidade, que lhes encheu o coração de uma paz inexplicável.

Contudo, como forma de colmatar a procissão que não saiu devido à chuva intensa que se fazia sentir no domingo, eis que num percurso bem mais reduzido, sai a Senhora da Saúde em modelo procissão de velas. Várias centenas de paroquianos acudiram ao local das festas e acompanharam-na. As ruas estavam enfeitadas, as portas das casas abertas, as colchas nas janelas e, apesar da hora tardia, familiares e amigos juntaram-se para venerar a Senhora enquanto visitava os seus paroquianos. Ao recolher a procissão, a despedida, o último adeus, um até para o ano!

De facto, um acontecimento nunca antes visto!!!

Mas… afinal…levanto algumas questões:

Uma festa antecipada em 6 semanas, muito mais participada do que nos anos anteriores, manteve-se ou não a tradição???

Um Terço Solene, nunca antes realizado e que por sinal foi um sucesso, será de manter???

Uma Procissão de Velas inédita, às 23h00, com uma afluência bastante significativa, será que deve continuar???

Porque não???

Deixemos de críticas destrutivas, deixemos trabalhar quem se predispõe a fazê-lo, nada é irreversível, só a experiência nos dará as respostas!!!

Afinal… alteração não será tradição e continuidade???

 

Arrifes, 22 de agosto de 2019

Goreti Freitas

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