A Igreja está no mundo para “dialogar com ele” e isso faz-se “dando e recebendo”, diz Bispo Coadjutor de Angra

D. João Lavrador apresentou o seu novo livro em Ponta Delgada

A sociedade vive um momento de rutura cultural e os cristãos “têm um papel ativo” no “desenho de uma nova cultura e de uma nova civilização” disse o novo Bispo Coadjutor de Angra, na cerimónia de lançamento do seu livro “A igreja em diálogo com o mundo”, que decorreu esta sexta feira à noite na Igreja do Colégio dos Jesuítas, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

“Vivemos um tempo de rutura cultural, de crise profunda de civilização na medida em que estamos fora de um cultura e ainda não entrámos noutra, aquilo que alguns chamam a era do vazio” disse D. João Lavrador.

Num mundo marcado pela tragédia e por acontecimentos que todos os dias nos mostram o pior, “precisamos de ter padrões de convivência, valores seguros de civilização” diz D. João Lavrador e a Igreja “não pode ficar de fora”.

“Nós não somos vítimas passivas de uma cultura; o Evangelho tem a capacidade de produzir cultura e transforma-la” alerta o prelado afirmando que “no momento em que tenho a capacidade de testemunhar o Evangelho estou a intervir porque estou a dar uma visão da vida que permite o encontro com o outro; a capacidade de me dar ao outro… isto é cultura”.

“Tal como o barco que se faz ao mar e que está nas ondas precisa de colocar os motores a trabalhar a fundo para não se afundar assim estamos nós; a Igreja, precisa de por os motores do Evangelho em força”, precisou o Bispo Coadjutor de Angra lembrando que a fé cristã está no meio da sociedade para dialogar com ela “e ninguém deve ter vergonha de o fazer”.

Depois de explicar como surgiu este livro e o que ele representa- um agradecimento à diocese do Porto e uma apresentação aos diocesanos de Angra- , o prelado lembrou que o grande mal da humanidade é “não ter valores nem referências e ter perdido a esperança” e isso deve-se ao facto do “homem ter sido sobrevalorizado esquecendo que precisa de Deus e do transcendente”.

Aludindo ao seu lema de episcopado- “Tu segue-Me”- D. João lavrador recordou o episódio das pescarias fracassadas para dizer que prante “as tragédias e os desânimos”, os cristãos “não devem resignar-se nem baixar os braços” e devem ser “testemunhas da esperança e da confiança” que só pode ser “depositada em Deus”.

A este propósito lembrou o Papa João XXIII para sublinhar que a terceira questão colocada pelo Concilio- o que é que o mundo tem a dizer à igreja- deve constituir hoje a principal agenda da igreja.

Depois da refontalização da Igreja, da reafirmação do que ela tem para dizer anunciando o Evangelho, “estamos no momento da escutar o que o mundo tem para nos dizer”.

“É isto que o Papa Francisco nos pede: escuta, acolhimento, abertura e encontro. Estamos de facto a responder ao terceiro desafio colocado pelo papa João XXIII quando perguntou e o que é que o mundo tem para dizer à Igreja?”.

A cerimónia de lançamento do livro “A Igreja em diálogo com o mundo” foi presidida pelo Bispo de Angra.

D.António de Sousa Braga agradeceu, uma vez mais, a disponibilidade de D. João Lavrador e sublinhou uma ideia transversal ao livro e que é a da necessidade da inculturação da fé.

“Uma fé inculturada é a que resulta da nossa realidade cultural envolvente; aquela que é vivida e experimentada, para que possa ser transmitida”.

“Quando eu, por exemplo não consigo dialogar com os meus sobrinhos netos, não consigo falar com eles e eles não me querem ouvir… como é que posso anunciar o Evangelho”, disse D. António de Sousa Braga.

Embora ausente desta cerimónia o Diretor Editorial da Paulus fez-se representar pela gerente da loja em Ponta Delgada, Manuela Ponte, que leu uma mensagem do Pe José Carlos Nunes, que explicou que este livro “surge de um diálogo digital”, que se “concretizou num curto espaço de tempo, devido á rapidez com que toda a gente respondeu a este desafio”.

“Há muito tempo que acompanhava os artigos de D. João lavrador no jornal da diocese do Porto A Voz Portucalense e o carácter atual, profundo e interpelativo da sua escrita despertou em mim este desejo de os partilhar com mais pessoas porque sendo textos publicados na imprensa são intemporais e muito importantes para quem deseja compreender o papel da igreja no mundo de hoje, que coloca tantos desafios à nossa fé” destacou o pe José Carlos Nunes.

A cerimónia contou, ainda, com um momento musical com dois elementos do Conservatório Regional de Ponta Delgada.

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