A liturgia pode ser um instrumento de aproximação dos jovens à Igreja mas isso exige formação e educação, refere o liturgista padre Jorge Ferreira

O sacerdote açoriano, que está a completar a fase final do doutoramento no Instituto Pontifício de Santo Anselmo, em Roma, inaugurou as conferências da Semana Nacional de Liturgia, que arrancou esta tarde em Fátima

A igreja pode dialogar com o mundo através da Liturgia e os jovens podem ter um papel importante nesse diálogo, mas para isso é preciso que a Igreja assuma a sua formação e educação como uma prioridade, afirmou esta tarde em Fátima o padre Jorge Ferreira, no arranque da Semana Nacional de Liturgia que regressa depois de dois anos de interregno por causa da pandemia.

“Estou profundamente convencido que a Igreja pode dialogar com o mundo através da liturgia, mas é preciso trabalhar: formar para a fé, formar para a celebração e esta formação tem que tocar a vida das pessoas, para que a fé diga alguma coisa à vida concreta das pessoas” afirmou o sacerdote ao Igreja Açores no final da sua conferência, colocando um especial acento na “formação dos jovens para a liturgia”.

“O abstracto já não chega” sublinhou ao destacar a perda “de uma gramática da religiosidade” que impede os jovens de compreender o que se passa numa celebração.

“Já não vivemos num ambiente de cristandade como no passado e uma linguagem fechada, pouco clara e muito abstrata não diz nada às pessoas e sobretudo não diz nada aos jovens” afirmou o sacerdote.

“A liturgia celebra aquilo em que se acredita; se temos dificuldade em acreditar temos dificuldade em perceber o que significa uma celebração”  acrescentou ainda o padre Jorge Ferreira frisando que é “ preciso que tomemos consciência de que a Juventude não está perdida e é necessário continuar a apostar numa aproximação, mudança de linguagem e formação para a liturgia e ajudar os jovens a fazer uma experiência de fé, através da participação na liturgia”.

Uma experiência de fé, diz o sacerdote, “ que é pessoal mas ao mesmo tempo comunitária e não individualista”, o que exigirá da Igreja também uma nova postura.

“Temos de ir ao encontro dos jovens de forma a que se sintam acolhidos e protagonistas, numa igreja de que fazem parte com o seu dinamismo e a vitalidade e sem medo de partilhar responsabilidades e, sobretudo, sem receio de lhes dar protagonismo”, adianta ainda.

O sacerdote que, durante a conferência, insistiu na importância da catequese, da explicação dos ritos e dos textos litúrgicos, de um investimento na preparação das celebrações, “sem facilitismos” mas que “toque a vida e a  linguagem dos jovens”, reconhece que o desinteresse dos jovens pela liturgia “não significa ausência de fé”.

“Vemos muitas vezes que os jovens que mantém uma relação mais próxima com a liturgia cresceram num itinerário de aprofundamento e amadurecimento da fé pessoal mas sempre aberta à dimensão comunitária”.

A partir de documentos estruturais do magistério, como a constituição apostólica Sancrosanctum Concilium, com particular enfâse para a última Carta Apostólica do papa Francisco Desiderio desideravi, o padre açoriano, que é professor de Liturgia no Seminário Episcopal de Angra, lembrou os vários “instrumentos” ao serviço da Liturgia para garantir esta “aproximação aos jovens” como a música mas salientou também que o contraponto a “um certo fechamento dos agentes, em especial dos sacerdotes” não pode  uma total permissividade.

“É preciso evitar abusos pois acolher não significa dizer a tudo que sim, permitir tudo” referiu explicitando: “acolher significa proporcionar-lhes a possibilidade de crescer”.

“A liturgia reveste-se de uma linguagem simbólica que não é acessível aos jovens de hoje e temos de entender isso procurando novos caminhos de aproximação”.

“Não tenho soluções concretas mas todos juntos  poderemos iniciar caminhos” disse, colocando “de lado o autoritarismo”, apostando “na corresponsabilidade”, dando-lhes “protagonismo”.

“A liturgia, como a pastoral de uma forma geral, é sempre um trabalho inacabado”, disse ainda.

“Estou ciente de que temos mais problemas que soluções mas não podemos desistir”, concluiu.

“Vivemos um sério perigo de fechamento dos responsáveis da comunidade que se comportam em função dos que vão à missa e parece que isso basta e nós sabemos que não basta. A nossa atitude tem de ser mais evangélica e missionária mas tem-nos faltado estratégias” afirmou o padre Jorge Ferreira.

O sacerdote açoriano inaugurou o Encontro Nacional da Pastoral Litúrgica que decorre até quinta feira, no Centro Pastoral de Paulo VI, em Fátima, sob o tema “Celebrar com os Jovens rumo à JMJ Lisboa 2023”.

A jornada, que reúne cerca de 600 participantes, foi aberta pelo arcebispo de Braga, D. José Cordeiro.

“Ousamos fazer este encontro mesmo com as dificuldades que ainda vivemos e ainda bem pois, ainda assim, contamos com mais de 600 inscritos”. O prelado deu ainda nota de que o interesse pela Liturgia tem crescido nas redes sociais e a página web do Secretariado Nacional tem refletido isso: 13154 seguidores no Facebook; 2400 no Instagram e 864 no Twitter. A página web tem mais de 113 mil visitas mensais e até a loja online tem registado um aumento significativo do número de encomendas.

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