“A nossa grande romaria será assumir não sair considerando a saúde pública, que está em primeiro lugar”, afirma presidente do Movimento

João Carlos Leite não esconde “a grande tristeza pessoal” que a ausência de romarias quaresmais desperta “em mim, nos irmãos romeiros, nas suas famílias e na população em geral”

O presidente do Movimento de Romeiros de São Miguel  afirma sentir uma “grande e profunda” tristeza pela impossibilidade de levar para a estrada, pelo terceiro ano consecutivo, as Romarias Quaresmais de São Miguel mas sublinha que a decisão foi tomada em nome de um bem maior.

“Foi com grande tristeza que assumimos novamente de maneira consciente não sairmos à estrada(…)A nossa grande romaria será assumir o não sair considerando a saúde pública, que está em primeiro lugar” referiu em declarações exclusivas ao Igreja Açores depois da reunião da assembleia geral extraordinária que decorreu em Vila Franca do Campo este sábado.

Participada por 44 dos 53 ranchos de Romeiros, que anualmente mobilizam cerca de 2500 homens no tempo da Quaresma em romaria penitencial à volta da maior ilha do arquipélago, a assembleia geral extraordinária decidiu “por larga maioria” não sair.

“A votação foi feita para não sairmos por larga maioria” afirmou esclarecendo que “pessoalmente considero que, atendendo às características da romaria e à evolução da situação pandémica , que nos está a colocar numa quinta vaga, sairmos seria de uma enorme irresponsabilidade”.

“As romarias implicam uma mobilização muito grande de todos- ranchos, famílias, acolhedores, população em geral. O afecto, expresso no abraço, que nestes dias está tão presente de uma forma tão particular entre irmãos e entre estes e aqueles com quem nos cruzamos, seria desaconselhado. As pernoitas eram difíceis em casas de pessoas; nos salões também não seria fácil, sobretudo com o cuidado de higiene que teria de presidir ao manuseamento de todo o equipamento, desde colchões à comida… são situações de difícil resolução, atendendo à instabilidade da situação pandémica” esclarece o responsável. Às dificuldades logísticas acresceria também uma certa “descaracterização da essência das nossas queridas romarias”.

É o terceiro ano consecutivo que as Romarias Quaresmais de São Miguel não saem para a estrada. No primeiro ano da pandemia, em 2020, os primeiros grupos ainda saíram, mas as romarias foram suspensas na terceira semana da Quaresma. Em 2021 não se realizaram e em 2022 voltam a não realizar-se.

“Temos esperança que ainda possamos fazer alguns encontros e eventos para tentar superar esta perda que é incalculável para o nosso bem estar espiritual e para o bem estar espiritual de quem connosco partilha estes dias”, refere João Carlos Leite.

“Há muita gente que nos diz que a Quaresma não tem sido a mesma porque não acolhem os romeiros. Muita gente considera estas romarias como um serviço, um bem maior do ponto de vista da vivência da sua fé”, adianta ainda.

A assembleia geral extraordinária teve em consideração um parecer da Direção Regional de Saúde que condicionava a hipótese da realização das Romarias em face da situação pandémica no momento. As exigências logísticas e a necessidade de garantir toda a proteção aos romeiros e às pessoas que com eles contactavam requere um planeamento atempado e, por isso, “não estavam reunidas as condições para adiarmos esta decisão”. Aliás, no espaço de 10 meses, os Romeiros só conseguiram reunir a sua assembleia plenária normal em outubro passado, depois de em janeiro terem adiado a reunião por causa do pico pandémico na ilha de São Miguel.

“Temos uma percentagem considerável de vacinados mas a quinta vaga está aí e tínhamos de tomar decisões” refere ainda sublinhando que os trabalhos desta assembleia extraordinária decorreram com “muita urbanidade e civismo, com respeito pelas opiniões diferentes e diversificadas que foram expressas numa reunião longa e intensa”.

As romarias quaresmais de São Miguel assinalam os seus 500 anos em 2022 e constituem uma das expressões mais idiossincráticas da religiosidade popular açoriana, particularmente na ilha de São Miguel onde a dimensão penitencial está muito presente na vivência da fé.

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