“A santidade só existe quando eu sou capaz de entrar em comunhão com Deus através do meu próximo”, afirma o Cónego Gregório Rocha

Solenidade de Todos os Santos é uma festa que celebra os santos de ao pé da porta

A solenidade litúrgica de Todos os Santos, que a Igreja celebra anualmente a 1 de novembro, assinala a santidade ‘anónima’ de católicos e católicas ao longo da história e, por isso, celebrar os santos significa celebrar aqueles cujo testemunho de vida está em perfeita comunhão com Deus e com os irmãos, refere o Cónego Gregório Rocha.

“A santidade só existe quando eu sou capaz de entrar em comunhão com Deus através do meu próximo e isso sim é a santidade concreta e todos nós somos chamados a essa santidade. Uma fé que nos ponha numa linha vertical com Deus e ignore o próximo não nos leva à santidade” refere o diretor espiritual do Seminário Episcopal de Angra numa entrevista ao Igreja Açores, no âmbito desta solenidade litúrgica que a igreja católica celebra esta sexta-feira.

“No passado a santidade era uma coisa mais piedosa mas a verdade é que a Santidade abstrata não existe” refere o sacerdote lembrando que a Igreja canoniza e beatifica algumas destas pessoas para propor “um modelo de santidade”, que põe no calendário litúrgico para que os fiéis “os conheçam e imitem”. Mas, “os santos que veneramos nos altares são santos não porque tenham feito coisas extraordinárias- que fizeram com certeza- mas pela sua coerência, persistência e entrega ao amor de Deus”.

O sacerdote recusa, assim, a ideia de heroicidade.

“É Deus que quer sejamos santos, que imitemos Jesus Cristo, a santidade encarnada”, afirma.

“Amar significa a capacidade de me libertar de mim próprio e hoje é mais difícil isso porque estamos muito virados para nós próprios e isso dificulta-nos a santidade” avança o Cónego capitular mais antigo da Sé de Angra.

O sacerdote lembra o apelo do Concilio Vaticano II à “vocação universal à santidade” e esclarece que essa vocação é definida porque “Deus quando se manifesta manifesta-se com amor, com comunhão e dá-nos a possibilidade de entrar em comunhão com ele”.

Portanto, conclui, “a santidade é entrarmos em comunhão com ele, mas nós não entramos em comunhão com ele sozinhos” refere ainda lembrando que “ na estrada que nos conduz ao Céu não podemos ir de mãos nas algibeiras nem de braços cruzados, temos de ir de braços abertos em direção ao outro que encontro no caminho”.

Na entrevista que pode ouvir na íntegra aqui, o sacerdote fala ainda dos santos de ao pé da porta, uma expressão repetida pelo Papa Francisco na exortação apostólica sobre a santidade, “Alegrai-vos e Exultai”.

“Nós vivemos a nossa santidade no nosso estado de vida e no nosso caminho. Um a mãe, um pai, os esposos… é nessa realidade concreta que podemos e devemos ser santos e isso implica “um processo permanente de conversão”, isto é, “voltar o nosso coração para o outro e voltar o meu coração para o outro para perceber que através da fragilidade do outro apreendo a minha própria fragilidade”.

Por isso, conclui, este dia também é para celebrar os santos `anónimos´ porque a santidade “não é um privilégio de alguns”.

A Igreja celebra a 1 de novembro a solenidade litúrgica de Todos os Santos, na qual lembra conjuntamente “os eleitos que se encontram na glória de Deus”, tenham ou não sido canonizados oficialmente.

As Igrejas do Oriente foram as primeiras (século IV) a promover uma celebração conjunta de todos os santos quer no contexto feliz do tempo pascal, quer na semana a seguir.

No Ocidente, foi o Papa Bonifácio IV a introduzir uma celebração semelhante em 13 de maio de 610, quando dedicou à Santíssima Virgem e a todos os mártires o Panteão de Roma, dedicação que passou a ser comemorada todos os anos.

A partir destes antecedentes, as diversas Igrejas começaram a solenizar em datas diferentes celebrações com conteúdo idêntico.

A data de 1 de novembro foi adotada em primeiro lugar na Inglaterra do século VIII acabando por se generalizar progressivamente no império de Carlos Magno, tornando-se obrigatória no reino dos Francos no tempo de Luís, o Pio (835), provavelmente a pedido do Papa Gregório IV (790-844).

Segundo a tradição, em Portugal, no dia de Todos os Santos, as crianças saíam à rua e juntavam-se em pequenos grupos para pedir o ‘Pão por Deus’ de porta em porta: recitavam versos e recebiam como oferenda pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocavam dentro dos seus sacos de pano; nalgumas aldeias chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’.

Já no dia 2 de novembro tem lugar a ‘comemoração de todos os fiéis defuntos’, que remonta ao final do primeiro milénio: foi o Abade de Cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.

Este costume depressa se generalizou: Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar três Missas neste dia, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia.

Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915).

(Com Ecclesia)

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