Acolhimento das famílias é essencial na ação pastoral da Igreja, diz cónego Carlos Paes

Pároco de São João de Deus, em Lisboa, e psicoterapeuta Margarida Cordo projetam temas da próxima assembleia extraordinária de bispos

A preocupação com o acolhimento das famílias como “ponto de partida” para uma pastoral de proximidade está no centro da ação proposta pelo cónego Carlos Paes, pároco de São João de Deus, em Lisboa, há mais de duas décadas.

“Digo sempre duas coisas: o pastor não é o administrador de cânones. Em pastoral a ultima resposta nunca pode ser um não”, refere o sacerdote à Agência ECCLESIA, numa entrevista que projeta alguns dos temas que vão ser abordados na próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, com início marcado para domingo.

O responsável precisa que este acolhimento dá uma particular atenção à atitude dos pais que pedem o Batismo para os seus filhos, mesmo os que se encontram em situações irregulares segundo as normas da Igreja Católica, perguntando-lhes “que testemunho querem dar”.

“Há sempre um caminho a fazer”, sustenta.

O cónego Carlos Paes confronta-se com várias situações de convivência conjugal e afirma que é preciso “respeitar sempre” estas pessoas.

“O casamento é sempre uma realidade sagrada, é algo que brota da vontade do próprio Criador”, explica.

Uma das questões mais discutidas na preparação para o Sínodo deste ano tem sido a situação dos divorciados que voltaram a casar civilmente, algo que para o pároco de São João de Deus exige “criatividade pastoral”.

“Mal de nós se nos limitássemos a administrar cânones”, observa, para sublinhar que “para lá das balizas” que a doutrina propõe, há “muito caminho que se pode fazer”.

O sacerdote não defende a criação de uma “imitação ou sucedâneo” do Sacramento do Matrimónio para os divorciados, mas explica que os recebe para rezar com eles e pedir que este caminho que se propõem fazer, “dentro dos condicionalismos que têm, sejam uma boa experiência, que se transforme numa bem-aventurança”.

Em relação ao debate sobre o acesso dos divorciados que voltaram a casar à Comunhão, o membro do clero lisboeta entende que é uma questão a encarar no Sínodo, porque “permanece em aberto na reflexão de muitos episcopados e de alguns bispos em particular”.

“Há uma coisa que eu lembro sempre, no entanto: se essas pessoas se julgam psicologicamente excomungadas e como que castigadas e penalizadas pelo seu passado, na verdade não estão nem castigadas nem excomungadas, nem privadas da celebração da penitência”, acrescenta.

Para o cónego Carlos Paes, o essencial é valorizar a “mensagem tão extraordinária, tão rica, tão abrangente” que a Igreja propõe.

Margarida Cordo, especialista em Terapia Familiar, sublinha por sua vez a importância de “não alinhar nem cooperar” na construção daquilo a que chama as ‘famílias faz de conta’, “aparentemente funcionais”, mas nas quais se multiplicam televisões ou a “cultura do tabuleiro”.

“A família de fachada também estraga uma sociedade”, alerta a psicóloga, para quem a Igreja é responsável para “reforçar por dentro” as famílias, ensinando-as a “não trocar o essencial pelo acessório”.

“Não vale a pena alinhar, enquanto Igreja, na moda do que parece bem”, conclui.

Mais de 250 participantes, incluindo D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, vão reunir-se até 19 de outubro numa assembleia consultiva extraordinária convocada pelo Papa Francisco para debater os “desafios pastorais sobre a família”.

O tema vai estar em destaque na próxima emissão do programa «70×7», na RTP2 (domingo, 11h30).

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