“As nossas comunidades precisam de um pastor próximo e disponível para as escutar”, afirma ouvidor do Pico

Este é para o padre Marco Martinho o principal desafio da Igreja do Pico, mas também da Igreja diocesana, numa altura em que as comunidades locais revelam algum cansaço pela espera de um bispo

É a ouvidoria mais alta de Portugal, embora no sopé da montanha majestosa, que constitui “a sorte” dos picoenses. É assim que começa a entrevista do Padre Marco Martinho, ouvidor da ilha,  mas também pároco do principal concelho de três que se estendem geograficamente pela segunda maior porção de terra das nove que constituem o arquipélago dos Açores, no meio do Atlântico. E, se há ilha que faz jus a essa certeza nemesiana, de que a geografia vale outro tanto como a história, é a do Pico. Terra agreste, dada a intempéries mas também de gente culta e cosmopolita que vê no mar uma enorme autoestrada para a vida. Talvez por isso a ilha continue a ser, hoje como no passado, um vulcão de fé adormecido, mais por falta de pessoas do que de entusiasmo.

“O Pico é o cais do Céu. Quando cá esteve na sua primeira visita pastoral, em 2001, D. António Sousa Braga dizia que a ilha do Pico era um vulcão, um vulcão adormecido e de facto assim é: este vulcão está adormecido do ponto de vista da fé” e embora seja um vulcão muito diferente do que era há alguns anos atrás, o “que existe  está a funcionar”.

É uma ilha que não é forte em movimentos de apostolado- “Não existem muitos mas os que existem estão a funcionar”. É o caso do CNE que “mobiliza muita gente, mas os seus encontros têm estado condicionados”; a Cáritas que “está muito bem estruturada, que nunca fechou portas e está muito atenta; o Movimento dos Cursilhos de Cristandade e a Catequese, mas tudo tem estado muito dependente da pandemia” afirma o padre Marco Martinho, ouvidor do Pico e Reitor do Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso.

Há um forte pendor popular com a vivência do Espírito Santo, com dezenas de irmandades que vivem a sua festa sobretudo entre o Pentecostes e a Trindade, mas também as festas dos padroeiros- as festas de verão são das mais participadas dos Açores e assumem quase o carácter de festa de ilha- Santa Maria Madalena, em julho ou Senhora de Lourdes em agosto- sem esquecer naturalmente a principal festa da ilha que é o 6 de agosto, com a festa do senhor Bom Jesus do Pico.

“O Santuário é o centro da fé no Pico” refere o responsável, que este ano terá trabalhos a dobrar. À habitual festa a 6 de agosto, com o seu novenário- “são quase duas semanas  em que diariamente as pessoas estão disponíveis para escutar a Palavra de Deus- junta-se a celebração do jubileu de elevação da Igreja de São Mateus a Santuário Diocesano, há 60 anos.

O sacerdote espera que este ano a festa já possa ser celebrada de forma mais expansiva, com a habitual procissão, onde pontuam as promessas “tão importantes para as pessoas”, uma expetativa que se estende também às festas do Divino Espírito Santo, que embora nunca tivessem deixado de se realizar, na expressão das esmolas, por exemplo, este ano poderão ser vividas de outra maneira.

“Julgo que este ano já poderemos celebrar de outra maneira, com  a vivência plena. Nós temos saudades, o povo tem saudades, de se sentar à mesma mesa para umas sopas do Espirito Santo”, refere.

Nesta entrevista o sacerdote fala dos desafios da Igreja e da forma como as comunidades estão a viver a sede vacante, desde o dia 21 de setembro, dia de São Mateus, tão importante nestas comunidades da ilha Montanha.

“Desde o dia 21 de setembro que rezamos pela vinda de um novo bispo e , ainda há dias, uma catequista me dizia: `senhor padre já estamos cansados de rezar pelo novo bispo´. Temos rezado em todas as eucaristias para que o Senhor nos dê um novo bispo à imagem do Seu coração, para que seja um pastor que apascente estas ovelhas do Atlântico”, referiu.

“O facto de rezarmos nas celebrações faz com que tenhamos a ideia do bispo sempre muito presente”, adianta ainda.

“Estarmos tanto tempo sem bispo, de este ser um processo de escolha tão moroso, cujos contornos não conhecemos nem entendemos bem, não ajuda necessariamente à vivência da Igreja nestas ilhas”.

“As comunidades precisam de um pastor próximo e disponível para as escutar; os agentes de pastoral também devem estar próximos das suas comunidades. Somos todos os dias convidados a sermos esta igreja a que o papa Francisco nos convoca: uma igreja em saída, próxima e de misericórdia” lembra como principal desafio desta igreja local mas também da igreja diocesana.

“ Talvez seja isso que nos falta: a vivência da misericórdia uns com os outros”, conclui.

A entrevista do padre Marco Martinho ao programa de rádio Igreja Açores vai para o ar este domingo, depois do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

 

A Ouvidoria do Pico

Possui 19 paróquias e sete sacerdotes. Tem um Santuário diocesano- Senhor Bom Jesus (São Mateus)- e uma obra das Irmãs Franciscana Hospitaleiras da Imaculada Conceição, a Obra Social Madre Maria Clara, destinada a acolher crianças e jovens em risco. Possui ainda uma Cáritas de ilha e três centros sociais e paroquiais: Santa Cruz das Ribeiras, São Roque e Santamarense. No Pico existem ainda  três  santas casas da misericórdia nas Lajes, em São Roque e na Madalena. A ilha possui ainda o jornal O Dever, um dos dois títulos ligados à igreja que ainda subsistem na diocese.

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