Atentados são a todos os títulos condenáveis

199ª Assembleia plenária da CEP reunida a partir de hoje em Fátima. Bispo de Angra é um dos participantes presentes

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D.José Ornelas, disse hoje que os atentados recentes na Europa são “a todos os títulos condenáveis” e alertou para as “densas nuvens de conflitualidade internacional”.

“Os atentados das últimas semanas na Europa, a todos os títulos condenáveis, para além do que possam ser as motivações daqueles que os praticam, bem como as densas nuvens de conflitualidade internacional que pairam sobre as relações políticas e económicas entre as nações, sublinham a necessidade de uma renovação que não seja simplesmente o regresso à normalidade de sempre”, afirmou D. José Ornelas.

O também bispo de Setúbal falava na abertura da 199.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorre até sábado em Fátima.

No dia 02, um apoiante do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico abriu fogo no centro de Viena, matando quatro pessoas no primeiro ataque deste género na Áustria desde há décadas.

O ataque surge no contexto de ressurgimento das ameaças ‘jihadistas’ desde a republicação das caricaturas de Maomé em França, pelo semanário satírico Charlie Hebdo.

Na abertura dos trabalhos da segunda assembleia plenária do ano, em moldes diferentes por causa do contexto de pandemia, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou hoje não estar pronto “para condenar ninguém pelas atitudes tomadas em consequência da dor”, referindo-se à eutanásia, e criticou o que designou de “soluções facilitadoras e legalizadas”.

“Respeito profundamente o drama de quem sofre e não estou pronto para condenar ninguém pelas atitudes tomadas em consequência da dor, da falta de sentido, de condições e de esperança”, disse D. José Ornelas, no discurso de abertura.

Para o também bispo de Setúbal, “aquilo de que essas pessoas precisam não é de mais condenação nem de estigmas”, considerando que “também não são soluções facilitadoras e legalizadas que ajudarão a criar uma sociedade mais humana”.

D.José Ornelas acrescentou que não encontra lógica no facto de se escolher este momento, a pandemia de covid-19, “para dizer aos que tocam no mais fundo da dor e do abandono ‘tem coragem, ajudamos-te a morrer; estamos a caminho de aprovar uma opção que aceita a tua eutanásia”, quando “tantos e com total dedicação se esforçam por dar razões e condições para ajudar a viver”.

“O que é preciso é acompanhar e oferecer condições e razões para viver”, defendeu o presidente da CEP, frisando que ao retomar-se “esta iniciativa precisamente neste momento e se tenha negado a discussão pública integrada num pronunciamento da vontade do povo, em assunto tão importante e fraturante”, não abona a democracia “nem a promoção de uma cidadania que se quer participativa e interventiva”.

A Assembleia da República “chumbou” em 23 de outubro um referendo sobre a morte medicamente assistida, ou eutanásia, apresentado através de uma iniciativa popular com mais de 95 mil assinaturas.

Com o “não” ao referendo, o processo legislativo da despenalização da morte medicamente assistida foi retomado, podendo ter votação final em dezembro.

Ainda sobre a pandemia de covid-19, um dos temas de que se ocuparão os bispos católicos portugueses na assembleia plenária, D. José Ornelas disse que esta crise “requer atitudes e medidas de caráter sanitário, social, económico, cultural e necessariamente espiritual”.

“Precisamos urgentemente de vacinas e de tratamentos eficazes, mas não somos apenas organismos doentes do coronavírus. Somos pessoas que precisam de integrar o sofrimento, os esforços e os sacrifícios e a beleza dramática da solidariedade num sentido de viver e num caminho de futuro”, declarou, apelando: “Que não amanheçamos um dia apenas curados do vírus, mas exaustos e vazios da pandemia, e naturalmente sedentos de voltar sôfregos e saudosos ao que já era”.

Segundo o presidente da CEP, “tanto sacrifício, tanta luta e tanta vontade de ajudar e mesmo tantos erros e atitudes irresponsáveis não podem simplesmente ficar escritos nas páginas dum livro que se fecha e arquiva, ou numa página das redes sociais onde a memória recusa fazer um clique”.

Devem, antes, “desabrochar num mundo, numa sociedade, numa economia, numa Igreja mais solidários, mais atentos”, continuou.

“Temos de voltar a socializar, temos de voltar às nossas igrejas, mais humanos, mais fraternos, mais crentes”, pediu o bispo de Setúbal, que lembrou também o trabalho da Igreja Católica no país nos últimos meses, ao tomar “as medidas necessárias para evitar a expansão da pandemia”, e na assistência e atenção “às vítimas económicas, sociais e do isolamento”.

Esta é a segunda Assembleia Plenária que decorre em contexto da pandemia e na primeira, em junho, a CEP publicou as consequências socioeconómicas da atual crise.

A intervenção, enviada à comunicação social, destacou a “criatividade” das comunidades católicas na resposta às limitações, “com recurso generalizado aos meios de comunicação social”, bem como a resposta de ajuda “às vítimas económicas, sociais e do isolamento”.

“Sinal de esperança foi a dedicação dos sacerdotes, diáconos e de tantas e tantos cristãos que têm permitido manter e desenvolver as celebrações e os contatos, estar com os mais isolados e atender os que mais perderam com a pandemia. É motivo particular de esperança que, neste contexto, inúmeros jovens tenham despertado para uma participação ativa na vida das comunidades”, declarou D. José Ornelas.

O responsável evocou os recentes falecimentos de D. Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo, e D. José Pedreira, bispo emérito da mesma diocese.

Este sábado, às 11h00, os bispos de Portugal vão concelebrar uma Missa de sufrágio pelas vítimas da pandemia, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, com a presença do presidente da República e do primeiro-ministro de Portugal.

“Deveríamos estar juntos todos os bispos e alguns representantes das dioceses de Portugal para esta celebração de caráter nacional. Dado que a situação que se vive atualmente no país não é propícia a muitas deslocações, tomarão parte nesta celebração os bispos que puderem estar em Fátima e os outros estarão unidos a nós e às famílias daqueles que pereceram, em celebração de saudade e de luto, mas igualmente de esperança e de vida, no Senhor Jesus, morto e ressuscitado, que nunca nos deixa cair das suas mãos fortes e carinhosas”, explicou D. José Ornelas.

(Com Lusa)

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