Bispo de Angra apela aos cristãos para terem a “ousadia” de trazer Deus para a vida pública

Eucaristia e procissão marcam dia grande nas festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres

O Bispo de Angra, que presidiu pela primeira vez à Eucaristia solene das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que decorrem em Ponta Delgada este fim de semana, exortou os cristãos a trazer Deus para a vida pública porque isso significa construir uma sociedade nova, que respeita a dignidade humana.

“Jesus Cristo convida-nos à ousadia de construir uma sociedade e uma cultura que para ser digna do ser humano exige a presença de Deus na vida pública”, disse D. João Lavrador.

Dadas as “perplexidades” do mundo actual, os “seus erros e desumanidades”, dadas as “ambiguidades da nossa cultura” na qual o “pensamento está manipulado por interesses pessoais ou de grupo, dadas as situações sociais fruto de uma falta de humanismo que produz graves atropelos à dignidade humana, fortemente liderada por conveniências económicas que geram pobreza, desemprego, marginalidade e novas periferias existenciais, temos necessidade de uma nova sabedoria”, referiu o prelado.

A este propósito, o bispo de Angra acrescentou ainda que “se todos e cada um de nós, segundo as responsabilidades que nos cabem, nos dispusermos a trabalhar pelo bem comum, a dar uma nova prioridade aos mais marginalizados, a colocarmos como prioridade nas nossas decisões a dignidade do ser humano, a promover uma cultura da vida e a edificar uma sociedade assente na verdade, na justiça e no bem, então edificaremos os novos céus e a nova terra”.

“Só em Deus nos reconhecemos na verdade do que somos, só em Deus podemos salvaguardar a transcendência de cada pessoa e só em Deus se constrói uma sociedade livre, fraterna e em que a igualdade se transforma em realidade efectiva”, concluiu lembrando que a figura do Ecce Homo (Eis o Homem) deve inspirar os cristãos a crer em Jesus ressuscitado e com Ele a possibilidade de construção de uma sociedade nova, num tempo novo.

Essa é uma “responsabilidade de cada cristão”, acrescentou, por outro lado.

“A pessoa humana necessita da luz nova e renovadora do Espirito de Deus para que se veja como ser humano na integralidade e na transcendência que lhe é própria, que cuide do autêntico humanismo e promova uma sociedade e uma cultura digna do ser humano”, afirmou, sublinhando também o papel da igreja que “é chamada ao diálogo com este mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático”, como de resto refere a Gaudium et Spes.

Referindo-se ao Senhor Santo Cristo, o prelado sublinhou o convite que que este Cristo deixa à renovação do homem, no seu tempo concreto:“O caminho da Igreja é o homem real, concreto, ao qual ela, por mandato do seu Mestre e fundador é chamada a servir”, disse por fim

Hoje à tarde tem lugar a procissão pelas principais artérias de Ponta Delgada, num percurso que passa em todas as igrejas e conventos da cidade.

As ruas da cidade são revestidas de tapetes de flores naturais e as varandas cobertas com colchas.

A imagem “veste” este ano uma capa em veludo e bordada a ouro oferecida por um jovem casal de emigrantes dos Estados Unidos da América.

A imagem do Senhor Santo Cristo venerada no Arquipélago dos Açores, do século XVI, é uma representação em madeira da Paixão de Cristo e está aberta ao culto no Convento de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada.

O culto a esta recriação do ‘Ecce Homo’ – ‘Eis o homem’, expressão atribuída a Pôncio Pilatos durante o julgamento de Jesus no Sinédrio – intensificou-se no século XVIII através da obra da irmã clarissa Teresa da Anunciada.

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