Bispo de Angra critica antropocentrismo das sociedades modernas

Prelado preside às festas do Senhor da Pedra, em Vila Franca do Campo

O bispo de Angra, na homilia, desafiou os cristãos presentes na festa do Senhor da Pedra, este domingo, em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, a redescobrirem a sua verdadeira identidade rejeitando a ideia do homem “como ser absoluto”.

D. João Lavrador, que presidiu pela primeira vez às maiores festas de verão da ilha de São Miguel, criticou o modelo de sociedade atual que conduz ao “egoísmo devorador”.

“Um dos problemas cruciais das sociedades modernas prende-se com a verdadeira identidade da pessoa humana. Ao reconhecer-se como ser absoluto, o homem despreza os seus semelhantes; ao não aceitar os seus limites, vive orgulhosamente voltado para si mesmo, num egoísmo devorador; dominado pelo materialismo, sente-se ofuscado na sua mente e no seu coração, nega para si mesmo a esperança no futuro e destrói-se num presente manipulador” disse o prelado lembrando que “Urge recuperar o ser humano em todas suas dimensões”.

Para o bispo de Angra este caminho só será possível através do aprofundamento do mistério pascal.

“A partir do itinerário que conduz à Pascoa somos questionados pela verdadeira identidade do homem, somos interpelados sobre uma nova forma de exercer o poder e somos convidados a encetar o caminho da reconciliação e da paz”, disse.

“Em situação história diferente e com novos contornos culturais, necessitamos também nós, hoje, de aprofundar o mistério de Cristo de modo a reconhecer n’Ele a plena divindade e a perfeita humanidade”, precisou.

O bispo de Angra sublinha que a “negação de Deus leva à negação do homem” e ao contrário do que o pensamento humano tem vindo a impor à sociedade, “não é necessário abandonar Deus para reafirmar a cidadania do homem”.

“Quando o homem se afasta de Deus é ele mesmo que se sente abandonado e sem a compreensão mais profunda”, frisa o prelado.

Por outro lado, D. João Lavrador desafiou os poderes públicos a colocarem-se numa atitude de serviço, porque o poder não é mais do que um serviço.

“Quanto aos poderes públicos, no exercício legitimo das suas funções, terão de se questionar sobre os fundamentos e sobre os objetivos que norteiam as suas decisões”, disse o prelado.

“Servir a pessoa humana e a sociedade, dar prioridade aos mais desprotegidos e excluídos, mobilizar para que todos os cidadãos sejam protagonistas da causa pública, respeitar os dinamismos da identidade cultural de cada povo, dar prioridade á família como verdadeira comunidade originária da sociedade; colocar a economia ao serviço da pessoa e estabelecer o diálogo entre as diversas ideologias para favorecer a causa comum” são para o bispo de Angra “algumas das prioridades do nosso tempo para a construção de uma sociedade mais justa”.

“Perante um mundo de divisões e de conflitos, urge estabelecer uma sociedade onde a reconciliação e a paz imperem” afirmou.

D.João Lavrador aproveitou a ocasião para se referir à situação mundial e apelou a uma nova atitude para a construção da paz.

“Olhamos à nossa volta e vemos um mundo que protegendo os interesses de alguns grupos coloca nas sendas do desespero tantos refugiados vagueando pelos trilhos de uma Europa sem rumo e sem horizonte. Mas também à nossa beira, nas famílias desfeitas, nas vizinhanças confrontadas, nos grupos rivalizados, a reconciliação é necessária” acrescentou.

As festas do Senhor da Pedra são organizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo e constituem um momento de encontro entre locais e emigrantes, que regressam a casa especialmente para estas festas.

A par de um programa religioso , que tem como ponto alto a saída da procissão esta tarde pelas ruas da antiga capital da ilha, a organização associa sempre um vasto programa sócio cultural do qual se destacam exposições e lançamentos de livros.

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