Bispos portugueses de olhos postos na pandemia

Assembleia plenária da CEP arrancou esta tarde em Fátima, com a participação  presencial do bispo de Angra

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, defendeu hoje que as vacinas contra a covid-19 devem ser “fator de coesão” e não agravar a discrepância entre pessoas e países.

“Certamente que as vacinas, para além de todas as polémicas periféricas, representam um grande feito científico e uma esperança para uma normalização da vida social e económica. Mas é necessário que sejam um fator de coesão e real progresso e não venham agravar a discrepância entre pessoas e países com maior ou menor poder económico”, disse o bispo José Ornelas.

O prelado falava na 200.ª Assembleia Plenária da CEP, que hoje começou em Fátima, no concelho de Ourém, de forma presencial e ‘online’. O bispo de Angra é umas 24 prelados presentes.

Salientando que “a pandemia não terminou e todos os indicadores nacionais e internacionais mostram” que se tem “pela frente tempos difíceis”, José Ornelas reconheceu que esta “expôs a vulnerabilidade dos que são económica e socialmente mais frágeis, entre os quais se contam os sem-abrigo, os desempregados e os imigrantes, mas, igualmente, setores empresariais e culturais”.

“Mas também mostrou o esforço das instituições públicas e privadas para atender a quem precisa”, declarou, destacando, de novo, “o papel dos que diretamente têm cuidado dos que foram afetados pela crise, não só nos hospitais e outros serviços públicos, mas também nas casas de família e nos lares de idosos, muitos dos quais são instituições da Igreja, bem como o precioso contributo das comunidades eclesiais na ajuda próxima a quem carece de bens essenciais à vida”, assinalou, de acordo com o discurso enviado à comunicação social.

Observando que é a segunda vez consecutiva que a Assembleia Plenária decorre de forma semi-presencial devido à pandemia, o presidente da CEP admitiu que a situação sanitária, embora deixe “vislumbrar perspetivas de melhoria da situação geral do país, continua a suscitar justificadas preocupações e a obrigar a medidas de contenção que permitam dar consistência a essas esperanças”.

“Esta decisão é, aliás, consequente com a atitude adotada pela Igreja em Portugal desde o início da pandemia: permanecer como espaço promotor de responsabilidade, solidariedade e esperança, próxima dos mais atingidos por esta crise que atinge o mundo inteiro, em diálogo com as autoridades competentes”, referiu.

Congratulando-se, de novo, com a deliberação do Tribunal Constitucional, que “considerou ferida de inconstitucionalidade a recente Lei da Assembleia da República sobre a eutanásia”, o também bispo de Setúbal apela para que, do mesmo modo que se envidam “todos os esforços para vencer a crise e o sofrimento da covid-19, pode e deve colocar-se “igual solicitude de ciência, pessoas e meios, não para ajudar a pôr termo à vida, mas para a tornar possível, com a qualidade, afeto e dignidade em cada etapa da existência”.

Bispo portugueses de olhos postos em Moçambique

Os bispos católicos portugueses acompanham “muito de perto” a situação em Cabo Delgado, Moçambique, onde grupos terroristas têm aterrorizado a população desde 2017, disse hoje o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

“Se a pandemia [de covid-19] em curso provoca graves crises em todos os países, esses dramas são mais agudos quando se conjugam com desastres naturais, como recentemente em Timor, ou com situações de terrorismo e de guerra, presentes em várias partes do mundo, concretamente na província de Cabo Delgado em Moçambique”, afirmou o bispo José Ornelas.

O também bispo de Setúbal discursava na 200.ª Assembleia Plenária da CEP, que hoje começou em Fátima, no concelho de Ourém, de forma presencial e ‘online’.

“Acompanhamos muito de perto esta última situação, contribuindo com a ajuda das nossas dioceses e outras instituições para minorar os efeitos dramáticos da crise humanitária”, garantiu José Ornelas, segundo o discurso distribuído à comunicação social.

O presidente da CEP adiantou que a Igreja Católica portuguesa apoia “vivamente os esforços do Governo português, da União Europeia e de organizações internacionais, para que, em colaboração com o Governo moçambicano, se possam encontrar meios de auxílio às populações e assegurar condições de paz e segurança na região”.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista ‘ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo contas feitas pela Lusa, e 700.000 mil deslocados, de acordo com dados das Nações Unidas.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

A 200.ª Assembleia Plenária termina na quinta-feira. Além da reflexão sobre a pandemia e eventuais novas orientações, os bispos vão falar sobre a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, em 2023, e discutir, entre outros assuntos, os ministérios laicais, para incrementar a participação, sobretudo das mulheres, na vida da Igreja.

(Com Lusa)

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