Cardeal-patriarca pronto para responder a desafio de «proximidade» do Papa

Primeiras declarações de D. Manuel Clemente aos jornalistas após o consistório

O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou hoje no Vaticano que a sua nova missão o vai levar a responder ao desafio de “proximidade” que é colocado pelo Papa Francisco.

“Proximidade com as pessoas, que não acaba sejam quais forem as circunstâncias, que permanece, que procura, que ajuda, que está lá”, precisou D. Manuel Clemente, horas depois do consistório em que foi criado cardeal.

O responsável falava aos jornalistas, antes da sessão de cumprimentos que decorreu esta tarde no átrio do auditório Paulo VI, na qual participaram centenas de pessoas.

O cardeal-patriarca comentava os alertas deixados pelo Papa esta manha, durante a homilia do consistório, a respeito da necessidade de uma vida centrada na “caridade” e não na busca do poder ou das distinções.

Segundo D. Manuel Clemente, Francisco quis recordar a todos a necessidade de “ter o coração no que é pequeno, nos que são pequenos”.

“A misericórdia tem esse sentido de preferência no que é pequeno”, prosseguiu.

O cardeal português diz que a sua missão continua a ser, no essencial, “estar com as pessoas”, o que não muda com as novas vestes vermelhas.

“Já me têm vestido vestes sucessivas, de padre, de bispo, agora esta, mas isso é muito acessório”, sustentou.

“Aquilo que eu pedi ao meu bispo da altura, o saudoso cardeal Ribeiro, foi para ser padre, o resto eu já não pedi: disseram-me”, acrescentou.

Em resposta às questões que lhe foram colocadas, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa admitiu que as viagens a Roma serão mais frequentes por causa do trabalho com Francisco, o Papa que “mais conselhos e reuniões suscita”.

Quanto a uma mudança “definitiva” para o Vaticano, o cardeal-patriarca mostrou-se mais concentrado no trabalho a fazer na sua diocese.

“Não, já lá [Lisboa] tenho o que fazer, valha-me Deus”, gracejou.

O primeiro cardeal da história de Cabo Verde disse também, hoje,  no Vaticano esperar que a distinção papal ajude a unir mais a Igreja e os governantes do país para um “maior sentido de fraternidade, de solidariedade, de justiça social”.

“Com os nossos governantes, para quem pedimos uma luz especial de Deus, nós vamos encontrar caminhos para criarmos melhores condições de vida”, salientou Arlindo Furtado, em declarações aos jornalistas, após o consistório que decorreu na Basílica de São Pedro, sob a presidência de Francisco.

“Todos estamos muito emocionados, graças a Deus. Que continuemos assim, com motivos para viver com sentido, com alegria, com muita abertura” declarou o bispo de Santiago, ainda rodeado por conterrâneos.

Arlindo Furtado assumiu que o cardinalato faz aumentar a “responsabilidade”, em particular no que diz respeito à tarefa de “testemunhar Jesus Cristo, construir a fraternidade, criar as condições humanas necessárias para sejamos felizes uns com os outros”.

O novo cardeal prometeu visitar a comunidade cabo-verdiana em Portugal, recordando todos os que se encontram na diáspora, que são membros de “um só povo”.

“O cabo-verdiano tem um coração grande e nós herdamos isso dos portugueses”, assinalou.

Num clima de muito entusiasmo, alguns dos presentes começaram a gritar ‘Papa, Papa’, ao que o cardeal cabo-verdiano respondeu com um sorriso, afirmando que “ninguém é proibido de sonhar”.

“Na Igreja não se procura o estatuto, não se procura o poder, não se procura o título, mas todos estamos aqui para servir, para testemunhar Jesus Cristo, para criar a fraternidade”, explicou aos jornalistas.

O bispo de Santiago revelou que em anteriores encontros com Francisco percebeu que “o Papa tem muito carinho por Cabo Verde”.

“Estamos com ele na construção da Igreja, para que ela seja cada vez mais credível”, acrescentou.

Arlindo Furtado espera agora que os cabo-verdianos se inspirem no dia “maravilhoso” do consistório, em que se viveu uma “festa do encontro” com culturas dos cinco continentes.

“Quando há motivação, as pessoas sabem transformar os desafios e as dificuldades em oportunidades”, declarou.

O cardeal cabo-verdiano concluiu com votos de que “Deus continue a abençoar” o país e torne os seus habitantes “cada vez mais unidos”.

Ildo Fortes, bispo do Mindelo (Cabo Verde), acompanhou a cerimónia na Basílica de São Pedro e manifestou a sua “grande gratidão e alegria” pela criação cardinalícia de Arlindo Furtado.

“Somos um país pequeno espalhado pelo mundo, mas temos aqui centenas e centenas de cabo-verdianos que vieram [a Roma] para este acontecimento, que para nós é histórico. É muito bonito”, referiu.

CR/Lusa

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