Comissão Justiça e Paz diz que as decisões da COP 26 foram pouco ambiciosas

Consequências das alterações climáticas prejudicam os mais fracos e vulneráveis

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) considerou hoje que, só com as decisões saídas da COP 26, em Glasgow, poucas coisas se alterarão e serão sempre os mais vulneráveis os que mais sofrerão.
Em comunicado, a CNJP, órgão dependente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), reconheceu que a reunião que decorreu entre 31 de outubro e 13 de novembro foi um período intenso “de reflexão, onde se voltaram a ouvir chamadas de atenção cada vez mais veementes e intensas acerca da necessidade absoluta de mudança dos comportamentos e hábitos que têm contribuído, de um modo evidente, para as crescentes alterações climáticas”.
“Apesar desta evidente necessidade, já se esperava que os acordos não fossem alcançados de um modo fácil, até porque já se sabia também que os líderes de alguns dos países que mais têm contribuído para a situação atual não estariam presentes, nem se fariam representar”, sublinhou a Comissão, admitindo que “entre certezas, expectativas e esperanças, a Cimeira decorreu, tendo sido assinados vários acordos e feitas várias declarações de intenções na linha da urgência na redução de emissão de dióxido de carbono, do metano, da desflorestação, do uso do carvão para a produção da eletricidade, da eliminação progressiva da exploração e produção dos combustíveis fósseis”.
E se, “ao olhar para os passos dados”, não pode ser deixado de sublinhar “o que de positivo há nos acordos assinados e nos progressos feitos”, a CNJP alerta que “estes se revelaram tímidos e ficaram muito aquém daquilo que é verdadeiramente necessário”.
“Se ficarmos só com estas decisões, poucas coisas se alterarão, afirma a Comissão Nacional Justiça e Paz, órgão presidido por Pedro Vaz Pato, acrescentando que “serão sempre os mais vulneráveis os que mais sofrerão”.
Recordando as palavras do Papa Francisco, em 17 de novembro, aos participantes no Encontro Mundial das Comissões Justiça e Paz das Conferências Episcopais, segundo o qual, “em cada parte do mundo o desenvolvimento integral e, portanto, a justiça e a paz, só se podem construir através destas duas vias: o cuidado da casa comum e a fraternidade e a amizade social”, a CNJP é perentória: “O tempo que estamos a viver é verdadeiramente o tempo que nos é dado para tomarmos as decisões que se impõem”.
“Não podemos continuar a ignorar os perigos e a adiar as decisões, não podemos também continuar a depender só da decisão dos líderes das nações. É agora chegada a vez das comunidades e da cidadania, é agora chegada a nossa vez”, considera a Comissão, que apela a “um genuíno sentido de responsabilidade para com as gerações presentes e futuras, de modo a incentivar e promover as mudanças de estilos de vida e de mentalidades que favoreçam e acelerem o cuidado com a (…) casa comum, de modo a responder verdadeiramente ao grito da terra e ao grito dos pobres”.
Da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) saiu o Pacto Climático de Glasgow, que mantém a ambição de conter o aumento da temperatura em 1,5ºC (graus celsius), promete mais apoios financeiros e regula o mercado do carbono.
O documento, que sofreu alterações até ao último momento e com a questão do carvão a provocar polémica, reafirma o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC acima dos valores da era pré-industrial, diz ser necessário reduzir as emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030, em relação a 2010, e contém compromissos sobre apoio financeiro a países em desenvolvimento para combate e adaptação às alterações climáticas.
(Com Lusa)
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