Comunicação

Por Carmo Rodeia

Nas últimas décadas, a Igreja tem apostado nos meios de comunicação social (MCS) como instrumentos e agentes das mudanças culturais e do desenvolvimento humano, consciente de que não basta usar os MCS para difundir a mensagem cristã; é necessário integrar a própria mensagem nesta nova cultura criada pela moderna comunicação.

Esta já era a percepção do Papa São João Paulo II na enciclica “Redemptoris Missio” e, hoje, por exclusão de partes, refletir ou debater a relação da igreja com a comunicação social é refletir sobre esta premissa, de forma clara, transparente e objetiva.

No discurso de abertura da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, que hoje começou em Fátima, D. Manuel Clemente sublinhou que a Igreja terá de “corresponder à sociocultura atual, que tanto inclui a pluralidade das abordagens como requer a definição dos interlocutores, no essencial da respetiva mensagem e na precisão dos posicionamentos”.

Para o cardeal-patriarca de Lisboa, a “vivência interna da comunidade eclesial pode e deve ser uma escola de comunicação”, na definição de parcerias e na salvaguarda da singularidade de cada iniciativa, “projetada depois no mundo mediático em geral”.

“A Igreja Católica em Portugal tem várias iniciativas, vários protagonistas, vários meios, mas falta a harmonização, que o projeto tem de incorporar e planificar”, afirmou o cardeal patriarca de Lisboa.
Admitindo que nunca se irá tirar aquilo que é a “originalidade de cada meio ou de cada grupo, de cada instituição”, o objetivo é que “em parceria, o mesmo acontecimento, a mesma notícia, ou a mesma reflexão possa circular por mais intervenientes e possa atingir mais públicos”.

As questões da Comunicação da Igreja são sempre atuais e pertinentes. Mas como em todas as coisas há que começar pelo principio e o principio, neste caso, é definir que qualquer Plano de Comunicação tem que ter em conta algumas permissas. Elenco três: a relação da Igreja com os media (ditos generalistas) e a marcação de uma agenda; a produção noticiosa que a igreja faz para esses media e a igreja enquanto proprietária ou produtora de medias, sejam escritos, audiovisuais ou digitais.

Em qualquer dos casos há uma palavra fulcral: profissionalização. Na relação com os media, na produção de conteúdos e na forma de os apresentar. Isso custa dinheiro, mesmo que tenhamos sempre presente que se pode fazer muito com pouco. O passado diz-nos isso. Mas o ritmo e as exigências hoje também são outras. Os padres conciliares foram peremptórios: Comunicar é Evangelizar e a Pastoral das Comunicações não pode continuar a ser o parente pobre da Igreja. Durante o Concílio chegou-se a esta conclusão. Eles foram capazes de ver isso há mais meio de século; nós é que teimamos em não pôr em prática.

 

P.S– Também hoje, na nova exortação apostólica, a terceira do seu episcopado, o Papa Francisco fala da Alegria da Comunicação. A ‘Gaudete et Exsultate’  (Alegrai-vos e Exultai- registe-se que é a terceira exortação em que o Papa utiliza a palavra Alegria), recomenda a santidade dos “pequenos gestos”, que impede de falar mal dos outros. Francisco convida a “permanecer centrado, firme em Deus” e a evitar a participação em “redes de violência verbal através da internet”.

“Mesmo nos media católicos, é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia e parecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia”, adverte.

Uma vez mais propõe-nos uma escola de alegria a partir do Evangelho, em particular das Bem Aventuranças. Neste catecismo da Santidade, Francisco diz que, na atual sociedade, “volta a ressoar o Evangelho” para oferecer “uma vida diferente, mais saudável e mais feliz”, e apresenta-nos a receita da santidade dos pequenos gestos. Esta, explica, não está reservada apenas a algumas pessoas, mas encontra-se “por toda a parte”, nas famílias, no trabalho, naquilo a que o Papa chama como “classe média da santidade”, inclusive “fora da Igreja Católica e em áreas muito diferentes”.

“Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração”.

“Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça”… com Alegria e sentido de humor. É mais um testemunho arrojado, à maneira de Jesus.

 

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