Cónego Gregório Rocha alerta para o perigo de uma espiritualidade feita de ritos e longe de Deus

Sacerdote encerrou os IV Encontros da Praia, um momento proposto pela ouvidoria no início do ano pastoral, para a formação de leigos

O Diretor Espiritual do Seminário Episcopal de Angra alertou para o perigo da vivência de uma “espiritualidade desencarnada” que se basta no cumprimento de “ritos e sacramentos”.

“A espiritualidade não deve, nem pode, reduzir-se à piedade:  posso ir à missa todos os dias, posso ter os meus momentos de oração, posso receber os sacramentos todos mas se no dia-a-dia da minha vida não procuro discernir  qual é a vontade do Senhor, e dou espaço à ação do Espírito, a minha espiritualidade fica desencarnada e sem sentido” afirmou o cónego Gregório Rocha na reflexão que fez esta noite no terceiro, e último, momento de reflexão sobre a Família e a espiritualidade, desenvolvido no âmbito dos IV Encontros da Praia.

“Vamos muito `às coisas de Nosso Senhor para nos sentirmos bem com a nossa consciência, mas na verdade a nossa vida depois não acompanha nem a vontade nem a palavra de Jesus” afirmou o sacerdote aos participantes nestes encontros formativos da ouvidoria da Praia, que no total dos três dias ultrapassaram as três centenas de pessoas, entre jovens e menos jovens.

O teólogo, que é também professor no Seminário de Angra, refletiu sobre a vivência da espiritualidade na família.

A partir do conceito de espiritualidade- “viver segundo o Espírito” -, e embora “não haja receitas”, o sacerdote sublinhou que a espiritualidade cristã “é seguir Jesus e viver a vida ao jeito de Jesus, segundo a Sua palavra, segundo os Seus critérios que são propostos no Evangelho, dentro da nossa humanidade”.

“Não é fácil mas também não é difícil se conseguirmos ir caminhando e discernindo sobre o que Jesus quer em cada momento para cada um de nós”, afirmou.

A partir da exortação pós sinodal do Papa Francisco “A Alegria do Amor”, o sacerdote, que é assistente de sector das Equipas de Nossa Senhora, um movimento de espiritualidade conjugal e dos Centros de Preparação para o Matrimónio (CPM), refletiu sobre a espiritualidade na Família, sublinhando que a espiritualidade cristã impõe uma dimensão comunitária à espiritualidade individual.

Para o cónego Gregório Rocha uma espiritualidade completa comporta três dimensões: caminho para o interior -ser capaz de mergulhar dentro de mim mesmo e discernir o que Deus quer para mim-; deixar que o Espírito aja e ir para além de mim próprio, dando-me aos outros.

“A família é o templo onde habita o amor trinitário” afirmou lembrando que ninguém se basta a si próprio.

“O caminho da espiritualidade é eu deixar-me possuir por Deus de forma que Ele condicione a minha existência e me leve aos outros”, disse ainda, ao sublinhar que “O amor é a razão de ser da espiritualidade”.

“Uma espiritualidade para a família é um caminho que a família percorre para uma meta que é a felicidade e essa felicidade está para o cristão na participação do amor de Deus”, enfatizou.

“Vocês casais amam-se, mas essa capacidade de amar é fruto da participação do amor de Deus. Quando Ele vos coloca no mesmo caminho é para que vocês sejam o sinal visível do Seu amor. E quando o casal consegue isso está a fazer o seu caminho de espiritualidade”, rematou destacando a importância da oração em casal que é “o alimento deste caminho”, como são os sacramentos.

“Na vida conjugal não há espaço para máscaras; é coração a coração, em que ambos batem como se fossem um só” porque “a vocação é a mesma: construir um só caminho e ser a expressão visível do amor de Deus”, concluiu.

Durante três dias, a ouvidoria da Praia refletiu sobre a Família tendo por base algumas dimensões: a sexualidade e os afetos; a educação e a formação e, finalmente, a espiritualidade.

Os Encontros da Praia são uma iniciativa da ouvidoria que habitualmente acontecem no início do ano pastoral funcionando no âmbito da Escola de formação da ouvidoria, destinada sobretudo a leigos.

 

[NPG id=48244]

Scroll to Top